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domingo, julho 05, 2009

A TRANSAÇÃO ARTE E CIDADE

"Lost In Translation" (2003). Sofia Coppolla



A Oficina Arte / Ocupação de Território / Desenvolvimento Local promovida pela CIDLOT – Centro de Desenvolvimento Local e Ordemnamento de Território da UNI-CV agraciou-nos nos dias 01 e 02 de Julho, respectivamente na Praia e no Mindelo, com uma importante discussão á volta da relação entre a arte e a cidade, que nas ultimas décadas sofreu grandes alterações. A ideia central é esta: a cidade constitui uma relação simbiótica e indescirnível com a arte, tornando-se ela própria uma obra de arte.


Para compreender melhor esta relação nada melhor do que atermos às poderosas contribuições de Dominique Malaquais, Historiadora de Arte, arquitectura e política africana, co-directora do projecto SPARCK – Space for Pan-African Research Creation and Knowledge (Africa do Sul) e da Kadiatou Diallo, artista visual educadora e activista na África do Sul. Ambas apresentaram interessantes novidades sobre o actual estado das coisas na arte, arquitectura e urbanismo africanos, sobretudo a dinâmica existente nas grandes cidades africanas. São novidades como:


- Networking Thinking, gente que se interessa pela ideia de tecnologias muito mais complexas mas que, todavia, não trabalha sistematicamente com tecnologias. Neste movimento surgem EWA BAMI JO = «come dance with us» uma organização muito nova em Kinshasa que lida com projectos sobre novelistas, poetas, etc.

- ACC – African Centre for Cities – University of Capetown - que implementa um programa denominado «Scenographies Urbanistique» na qual a ideia da transação é fundamental. São projectos como o Visual Arts Residency de KaKuDJi, o Performing Arts Residency de Mowoso, etc. Entre eles o caso mais paradigmático é o de KaKuDJi que contrapõe denúncias políticas filmando com câmaras pequenas, em viaturas em movimento, situações flagrantes de corrupção, atropelos aos direitos humanos, etc. Editou «The Secret Diary of a Paranoid Schizophrénique” no qual mistura fotos e desenhos com mensagens fortes sobre a esquizofrenia do capitalismo nas grande metrópoles.


Enfim, imaginary worlds como o de KaKuDJi , artista africano que imagina cidades europeias do futuro desde o contexto africano ou o colectivo estudantil universitário MATAHATI (traduzido: ‘olho da alma’) que produz obras sobre a história, a identidade, mudanças culturais e sociais em Malasia. Podem ser vistos no site http:\\www.universes-in-universe.de.


«No Centre, No Hierarchy, No One-way relationships», resume, na óptica de Dominique Malaquais e Kadiatou Diallo, o essencial destas propostas estéticas e activistas contemporâneas: cruzam-se vários caminhos na dinâmica das cidades e a transação é contínua, até em simples objectos como o sapato (neste particular, Dominique Malaquais fez questão de mostrar a plateia, ávida, os seus belos sapatinhos).


Outra contribuição de relevo foi o documentário «Lost Freetown», o primeiro da Nazia Parvez. Desta vez, na perspectiva inversa: a da destruição desse espaço de transação entre a arte e a cidade. Freetown, depois da guerra, transformou-se numa enorme catástrofe natural e humana e se há palavra que traduza as imagens apresentadas pela documentalista e fotojornalista de «The Guardian», tambem freelancer da Associated Press, ela está encerrada no próprio título do documentário: «cidade perdida». Não Transaccionável. Inóspita.