Há pessoas na vida cultural caboverdiana que se sentem senhores de qualquer coisa de intangível. Actuam como «polícias de sentido político-cultural», obstruindo as artérias da livre circulação de conteúdos. A impressão que me dá é que há muita gente a pedir licença a essa espécie nova de críticistas e guardiões da cultura: lêem o que Eles escrevem, ouvem-Nos na televisão, e só depois querem aceder a esse sentido meta cultural inolvidável que provém da criação humana. A crise criativa que ataca certos artistas é, de certo modo, afectado por essa interferência, um imbróglio que nasce com o estabelecido, com o «status quo»: uma máquina demiúrgica que escolhe, descrimina, privilegia e mata iniciativas. Perante isto o que o artista deve fazer é simplesmente: assaltar os céus (no sentido godard do termo).
Entretanto, neste mesmo cenário, existe uns poucos chatos que são verdadeiras «mentes privilegiadas» e tal como um Rei Midas: em tudo que tocam torna-se ouro para seu bel-prazer. Dá-me, até, um certo gozo ver indivíduos que se crêem num pedestal, aureolados como esfinges, sem todavia terem criado absolutamente nada, sem terem enriquecido o olhar e o ser caboverdiano. É uma lástima que isso ocorra porque, de facto, não há talentos ou génios baseados meramente na filiação, golpes de sorte ou pedidos .
A cultura não é propriedade de ninguém; os valores que a natureza humana produz devem ser colhidos, transformados e recriados, por qualquer que se dê a esse trabalho. Tão natural quanto isso.
Estamos ainda na lógica de «nha tchapéu de padja dja ganha fama»: Só ki kem ki ta dá kel txapeu é Nhu Rei. O dito chapéu devia, honestamente, ser lançado aos quatro ventos para só ser encontrado no labor do trabalho, ao pôr do sol e com olhos no horizonte. Trauteando Picasso, não procurar (desesperadamente) mas sim, encontrar. Quem encontra é porque fez os caminhos necessários, no seu espírito criativo, para que isso acontecesse.
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