Ovídio Martins
PORRE DE UM CORAÇÃO MAGOADO
Bateu-me à porta, a mão nefária do desamor.
Eu que pensava que fazíamos um lindo par,
vejo que afinal eras harpia, em vez de, anjo!
Messalina e não Penélope!
Oh, insensato tesouro do peito!
Desesperado, busco guarida na noite vadia
com seus milhares de olhos.
Sem tua luz para iluminar meu caminho,
vejo minha triste sina nas asas de um luz-em-cu.
Só então dou-me conta de, novamente,
estar a trilhar os escuros passos de Nalvinha,
aquela que sonhava ser modelo em Paris.
Sinto as pernas trôpegas.
Mesmo assim, continuo minha noctambulação.
Um cão azul recita litanias ao cio da lua,
o cri-cri cintilante dos grilos,
o sincopado ébrio da gaita e do ferrinho,
o cuspe do bêbado no chão do buteco,
“A rua das putas” cheia de buracos e de vida,
o aroma esmeralda do pão,
um ranger de estomâgo vazio,
o Salão “Armonia”,
o hálito fétido a felação e mijo do beco.
Letras infectas que ameaçam: “SIDA STA MATA / LIBRA!”.
Tropeço.
Vida de porre, vida de merda,
tudo mictório, latrina, excremento!
Caio.
Crash, a garrafa se parte.
Um caco de vidro entra
bem no fundo de minha alma exangue.
Estou feliz! Não sinto dor, nem vejo sangue.
Não sinto nada. Não preciso de nada:
nem futuro, nem liberdade
- se minha liberdade era estar preso em ti -,
só um epitáfio em meu túmulo: eu morto, tu viva!
Qual a sensação?
Na verdade, o que dói e interessa e faz sentido
é esta promessa de loucura do outro lado da linha.
Bateu-me à porta, a mão nefária do desamor.
Eu que pensava que fazíamos um lindo par,
vejo que afinal eras harpia, em vez de, anjo!
Messalina e não Penélope!
Oh, insensato tesouro do peito!
Desesperado, busco guarida na noite vadia
com seus milhares de olhos.
Sem tua luz para iluminar meu caminho,
vejo minha triste sina nas asas de um luz-em-cu.
Só então dou-me conta de, novamente,
estar a trilhar os escuros passos de Nalvinha,
aquela que sonhava ser modelo em Paris.
Sinto as pernas trôpegas.
Mesmo assim, continuo minha noctambulação.
Um cão azul recita litanias ao cio da lua,
o cri-cri cintilante dos grilos,
o sincopado ébrio da gaita e do ferrinho,
o cuspe do bêbado no chão do buteco,
“A rua das putas” cheia de buracos e de vida,
o aroma esmeralda do pão,
um ranger de estomâgo vazio,
o Salão “Armonia”,
o hálito fétido a felação e mijo do beco.
Letras infectas que ameaçam: “SIDA STA MATA / LIBRA!”.
Tropeço.
Vida de porre, vida de merda,
tudo mictório, latrina, excremento!
Caio.
Crash, a garrafa se parte.
Um caco de vidro entra
bem no fundo de minha alma exangue.
Estou feliz! Não sinto dor, nem vejo sangue.
Não sinto nada. Não preciso de nada:
nem futuro, nem liberdade
- se minha liberdade era estar preso em ti -,
só um epitáfio em meu túmulo: eu morto, tu viva!
Qual a sensação?
Na verdade, o que dói e interessa e faz sentido
é esta promessa de loucura do outro lado da linha.
Jorge Garcia
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