Se F. Coppolla, na sua obra «O Padrinho», fez uso do tempo cinematográfico como factor dramático, em «Paris, Texas» Win Wenders utiliza o ambiente para o mesmo fim. Neste filme, o recurso a espaços cinematográficos de índole particular é que faz com que o comportamento das personagens ganhe sentido. A primeira imagem do filme é construído por um travelling e vários planos gerais do deserto, habitado apenas pela figura franzina de Travis (Harry Dean Stanton) e por um abutre, á espera que ele ceda ao cansaço. Wenders vai nos aproximando progressivamente da personagem. A composição do enquadramento vai-se simplificando e a nossa atenção centra-se, então, na cara desfigurada de Travis, nas mãos que tapam uma bóia já vazia de agua e no seu rosto crispado pelo sol do deserto. Á medida que o filme progride, a selecção das objectivas e os movimentos de câmara vão correspondendo cada vez mais as características dramáticas e orgânicas dos lugares, que correspondem ás características dramáticas que se observam nas personagens. Passamos, assim, da «pré-historia» das imagens totais para planos mais fechados e sintéticos da civilização humana.
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