Há pouco tempo filmei um projecto que se debruçou sobre a comunidade multi-étnica de S. Francisco em Bilbao (Espanha) - sobre a qual ainda não disponho de financiamento para pos-produção. Resta-me para já uma pós-reflexão que partilho contigo: no início o vídeo girava em torno do racismo e da questão da integração da pessoa humana e se ela pode ser conseguida através de uma preparação e aperfeiçoamento de qualidades corporais e psíquicas que eliminem o medo do Outro. Nesta perspectiva, teríamos assim no centro do espectro a inter-acção entre o corpo, a vida quotidiana e as tecnologias. Mas depois de vários visionamentos, o projecto acabou por «esbarrar», sem querer, numa expressão teórica/metafórica do filósofo/sociólogo Zygmunt Bauman que explicita um dos aspectos essenciais das sociedades contemporâneas: «as comunidades cabides (cloakroom communities). Este sociólogo defende que as sociedades actuais precisam de um espectáculo que apele a interesses semelhantes em indivíduos diferentes e que os reúna durante certo tempo em que outros interesses – que os separam em vez de uni-los – são temporariamente postos de lado, deixados em fogo brando ou inteiramente silenciados, formando assim, ocasionalmente, uma comunidade que tem nos cabides, cacifos e bastidores, o seu momento de comunhão.
Devo dizer que a visão crítica deste sociólogo/filósofo rondou, instintivamente, a primeira fase da montagem vídeo e, a cada visionamento, via, num processo, quase de imersão, claros sinais tremeluzentes dessa oscilação radical entre indivíduo e a colectividade. Na verdade foram coisas que eu senti durante a onda dos acontecimentos naquela cidade mas que só mais tarde, com o distanciamento necessário, acabaria por ter essa bênção teórica de Z. Bauman. Quando saí para a rua com a minha câmara quis, ingenuamente, participar de uma pequena revolução no Bairro imigrante de S.Francisco, em Bilbao, mas no final, não houve revolução nenhuma e acabei por regressar ao meu sossego e á essa estranha condição de estrangeiro.
Devo dizer que a visão crítica deste sociólogo/filósofo rondou, instintivamente, a primeira fase da montagem vídeo e, a cada visionamento, via, num processo, quase de imersão, claros sinais tremeluzentes dessa oscilação radical entre indivíduo e a colectividade. Na verdade foram coisas que eu senti durante a onda dos acontecimentos naquela cidade mas que só mais tarde, com o distanciamento necessário, acabaria por ter essa bênção teórica de Z. Bauman. Quando saí para a rua com a minha câmara quis, ingenuamente, participar de uma pequena revolução no Bairro imigrante de S.Francisco, em Bilbao, mas no final, não houve revolução nenhuma e acabei por regressar ao meu sossego e á essa estranha condição de estrangeiro.
Para já contento-me com esta mistura de performance vídeo e de manifesto politico-cultural, contendo, apesar da sua natureza lúdica, ideias positivas e esperançosas : a ideia de que é preciso dançar para ser; dançar para devolver ao corpo a alegria e o encanto de comunicar; criar; vencer o medo; transformar a rigidez em elasticidade; tecer esperanças; lançar caminhos; dançar para aceitar as diferenças e descobrir a riqueza de quem é diferente; dançar para sair da solidão, do isolamento e dos esquemas rígidos criados a nossa volta na sociedade. Apesar de todas essas danças, vozes e cânticos, que nascem da aparente imobilidade social apenas divertirem, em instantes lúdicos, essa mesma sociedade para acabarem inteiramente silenciadas pelo peso opressivo e mesquinho do status quo político-social ou pela vil mediania. E no final cai o pano sobre a cena .
Ah, sim! Se fosse um trabalho solitário (e se tivesse estômago para isso) poderia, pelo menos, distorcer tudo até tornar abstractos os movimentos de dança, as cores e os elementos da natureza. Pelo menos aplacaria essa asfixiante humanidade que me invade, eivada desse ridículo sentimento: a esperança de que somos verdadeiramente racionais e melhores como civilização.
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