Não, a sério. Estou mesmo a curtir a escolha da TCV, ultimamente. Boas séries e tal, filmes bons aos fins-de-semana (todos devidamente com direitos de transmissão, não é?!). Água boa.
Gosto de filmes sobre as prisões afro-amer... (não)... norte-americanas. Em todas elas a violência e a corrupção dominam todo o argumento. Os Condenados de Shawshank (EUA, 1994) de Frank Darabont, com Tim Robbins, e Prison Break (EUA, 2004), criado por Paul Scheuring são provavelmente os melhores exemplos disso. Nos dois filmes ambos os personagens chegam á prisão nas mesmas condições: inocentes (mesmo)!
Scofield (Wentworth Miller) e Andy Dufresne (Tim Robbins) têm razões completamente diferentes e o seu confronto com a dura realidade das prisões é tambem distinta, em grau e parentesco cinematográfico: o espectáculo de uma consciência em acção que está presente em Os Condenados de Shawshank quase que aproxima este filme do universo cinematográfico do «enorme» cineasta japonês OZU; o frenesim presente na série televisiva Prison Break - uma conspiração política para acabar com a vida um homem inocente - está, talvez, mais próximo de um Oliver Stone ou de um Ridley Scott, quando este muda de pele.
A hiper-tranquilidade de Andy Dufresne (Tim Robbins), o seu aspecto silencioso reverte-se na própria estrutura do filme que nada mais é do que uma longa e penosa travessia simbolizada na fuga fabulosa do protagonista «por um inferno de lodo e esgotos». Os longos planos-sequências respeitam esse tipo de cinema mais reflexivo, dado pelo voice-over de Red / Morgan Freeman, aspectos esses ausentes em Prison Break, no qual dominam mais as acções violentas com travellings rápidos, planos serrados que criam a sensação de aflição como é próprio das prisões. Se a personagem Scofield (Wentworh Miller) tem todo o mapa da prisão tatuado no corpo, n' «Os Condenados de Shawshank», Andy Dufresne (Tim Robbins) tem o mapa tatuado na sua consciência, forjado no silêncio de uma cela.
Entretanto ambos, por questões comerciais, não tocam as baínhas do cinema hiper-realista e radicalmente contemplativo de Robert Bresson que tambem filmou a realidade das prisões com «Um Condenado á Morte Escapou» (1956). Este cineasta reinventou o conceito de cinema substituindo-o pelo de «cinematográfico» ao pretender mostrar ao espectador a essência das personagens, substituindo os actores por «modelos» cujos gestos, olhares e expressão facial ganham relevo no esquema argumentativo e na direcção do filme.
Isso, sim, seria uma catástrofe para quem quer apenas ... divertir-se.