José Maria Neves
Na teoria económica existe aquilo a que se chama lei rendimento decrescente que afirma que o produto marginal de uma determinada produção diminui à medida que a utilização do insumo aumenta, quando a quantidade de todos os demais fatores de produção se mantêm constantes. Por exemplo um determinado terreno de cultivo quando cultivado intensamente e sempre com o mesmo cultivo, sem variação na utilização de adubos, fertilizantes e insecticidas, esgota-se rapidamente e rende cada vez menos. Reduzida a sua capacidade de reprodução o terreno definha e acaba em pedregulhos.
Assumir cargos políticos á frente de uma juventude politizada é mesmo a mais procurada das «responsabilidade» e aquela que se entende como elevado sentido de cidadania. Esse é o primeiro jovem. Há outro jovem comprometido que veio de gente humilde que assume com convicção os seus valores de solidariedade e entreajuda á frente de uma associação de jovens. Que comove pela opção corajosa que assume: esse é o segundo jovem. Esses dois jovens co-habitam, todavia, em vizinhanças políticas e é norma ver um deles passar o outro lado numa ponte levantada pelos interesses partidários.
Um terceiro jovem discute politica, revela inteligência e capacidade de intervenção. Compara os discursos e consegue dissecá-lo até mais não haver argumentos dissuasores. Não prova necessariamente que é capaz de assumir porventura essas mesmas funções mas é sempre algo reprodutível e algo com consequências num plano moral e opinativo que pode até se materializar numa figura política posterior. Opinion maker, spindoctor, no matter, vale o respeito e o efeito que suscita nos demais.
Mas eu pergunto: onde é que está esse jovem que procura caminhos mais longos, mais tortuosos mas gratificantes por aquilo que trazem de sabedoria. Onde é que está aquele jovem que segue os poetas e não os políticos? Melhor, onde é que está aquele jovem que segue os poetas contra os políticos? Estará, neste momento, «enfiado» no seu quarto fazendo uma incursão silenciosa na poesia cabo-verdiana e misturando-a com o velho cinema europeu nas horas vagas em «permanent vacation», em permanente apatia?
Nem estou a falar daquele alien que se vangloria com um verso recém-descoberto do universo de Holderlin se ainda não tem maturidade para o sentir no peito mas aquele outro que se afunda na poesia de um conterrâneo seu, levado pela velha asserção filosófica «conhece-te a ti mesmo». Esta postura, aparentemente passiva e apática, pode revelar-se extremamente interventivo se ele começar a utilizar jargões literários/filosóficos em camisolas e não clichés de mera «javardice» moral e prevenção a qualquer «doença do fim do mundo»; ou no melhor dos casos se souber cortar esse cordão umbilical que o une ao status quo dos seus pais e afirmar uma cultura nova, contemporânea nos seus valores, liderando em espaços culturais da nossa praça.
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