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quinta-feira, março 29, 2007

Os nossos desgraçados favoritos. Isso, a propósito de uma ida ao Centro Comercial

Em todos os bairros existe sempre uma pessoa que é o «desgraçado favorito» de todos. Falamos daquele tipo melancólico, livresco, esguio, algo bizarro, de vestes desengonçadas, e olhar sinistro que assusta as crianças ou tambem daquele gordo, voluntarioso, beberão, que fala alto, e que diverte as crianças. Antes, esses pobres desgraçados eram os «excomungados» pela Igreja; nos dias que correm são os «banidos« da lógica do capitalismo e consumo.


Segundo Peter Slodenijk, filósofo alemão, herdeiro de Nietzche e «próximo» de Jean Baudrillard: tal como a religião, o capitalismo cria um espaço interior que busca a sua totalização e a abolição do exterior; não busca a aventura mas sim a segurança. Na práctica, cria grandes centros comerciais, com tudo lá dentro, [os japoneses e os alemães já têm centros comerciais com neve e ski] e como o exterior não lhes interessa deixa-os aos que são suficientemente pobres e miseráveis. Se os antigos desgraçados atiravam pedras aos santos de barro agora atiram pedras filosofais contra as vitrines e montras dos grandes centros comerciais.



Ainda bem que a tecnologia instaurou uma zona intermédia de significação e formas representativas permitindo aos nosso desgraçados favoritos encontrar o elo que lhes .faltava, metamorfoseando-se em bandas de rock n' roll, de rap/hip hop, e de criadores de cinema underground / indie.


Mas assim que são ncorporados, sob a bandeira do lucro , pelo capitalismo que os rejeitou, no princípio, acabam por perder a alma. Pelo menos a maior parte deles. Somente não perdem a alma os que são do calibre de: Ferro Gaita (na verdade, estão umbilicalmente ligados Txadinha Riba, o seu bairro e á Praia); Bob Marley (demasiado espiritual para ser enganado); Ben Harper (de rock e griffes assassinos de guitarra agarrou-se aos hiper-folklóricos Alabamas Boys); Tom Waits (especialista em detectar barbaridades do capitalismo); Jim Morrison (que gastava todo o seu dinheiro nas beberagens com os amigos, que levava aos estúdios de gravação para irritação dos produtores), Terence Malick (que aprendeu a apresentar só o essencial, aparecendo de quatro em quatro anos); Jim Jarmusch (intragável pela máquina capitalista por ser um tipo porreiro); ... e a lista não termina aqui.


Estes são, por agora, os meus desgraçados favoritos.

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