"Cidade de Deus"(2002). Fernando Meirelles
Há momentos atrás andava eu com uma quantia considerável em cash para depositar e deparei-me com um dos thugs da capital: um tipo bem alto, lenço na cabeça, de chinelos, e mau aspecto. Naturalmente que qualquer pessoa sente-se-se impelido a pensar coisas perfeitamente banais do estilo «sera que ele sabe que eu tenho esse dinheiro», «será que ele desconfia de alguma coisa», «será que ele adivinha os meus pensamentos». Não cheguei a pensar essas coisas mas coloquei-me, logo, em autodefesa. Com um pouco de paciência e sangue frio ainda pude pensar «o que leva este jovem á minha frente a me atacar e roubar, nesta horita?», «claro que ele tem necessidades, mas não vou tirar o meu dinheiro que ganhei com muito suor para lhe dar. Isso nem pensar», «ou ele vai fazer esse ataque por pura vingança - para vingar os pais que tambem não foram bem sucedidos na vida. E que culpa tenho eu disso?» , «com que arma ele me vai atacar? O ódio dele vai em quantas gramas?». A distância entre nós começa a ficar mais curta, em tensão psicológica e em metros. Cruzamo-nos. Não acontece nada. Reparei até que ele levava atrás, pendurado nos calções de ganga suja, um pano seco, desses que os limpadores de carro levam sempre atrás. «Está, afinal, a ganhar honestamente o seu pão». Isso me deixa feliz mas não descansado. Porque não estudou? Quem se descuidou? Ele ou os pais?». Que consciência carrega ele enquanto anda e trabalha. Quantas revoluções já não terá pensado esse jovem, meu conterrâneo, meu desconhecido mas não meu estranho. Seguramente.
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