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quarta-feira, junho 15, 2011

COMO PODERÁ EXISTIR A ARTE SEM A CRIAÇÃO?

Mário Vaz Almeida é professor na Universidade Jean Piaget, na Praia, licenciado em Ciências de Comunicação, variante audiovisuais e medias interactivos. Tem uma pós-graduação em documentários que também detém uma componente jornalística. Frequentou durante seis meses um curso de Jornalismo no CENJOR, em Portugal, para além de formação na RTC também ligado ao jornalismo, Realização e Produção de programas. Em entrevista a Nos Identidade, este profissional deixa transparecer o gosto pela arte criativa.



* Entrevista conduzida por Cândida Barros (aluna finalista do curso de Ciências da Comunicação da Universidade Jean Piaget de Cabo Verde)



Nos Identidade – Queria que falasse um pouco sobre a disciplina de Atelier de Criação?
Mário Almeida
– Atelier de criação é uma cadeira Interdisciplinar, quer dizer que os alunos terão que, a partir das outras disciplinas, dos conceitos e das noções, fazerem alguma coisa prática no atelier. Tem um factor que é a questão da experiencia: o estudante terá que ter experiencias de fazer as coisas, trabalhar na prática, manufacturar ideias, conceber e tratar fotos, filmar quando se pede, e são esses conjuntos de preceitos que vão ser avaliados pelo professor da cadeira, e que já tem a ver com a capacidade criativa do aluno. Cabe ao docente ver se o aluno, de vez em quando não repete padrões, se é capaz de assumir uma responsabilidade no futuro, porque a criação é pluridimensional: tem a ver com a postura do aluno, a forma de interacção entre ambos, aspectos importantes para uma aprendizagem saudável. O professor tem que ter uma componente criativa forte para provocar os alunos, obrigando-os a um feedback.



NI- Para leccionar Atelier de criação, para a variante de Jornalismo, o professor tem que ser um Jornalista?
MA
- Tem que ter conhecimento de jornalismo. Eu dou esta disciplina por várias razões. Primeiro, porque sou licenciado em Ciências de Comunicação, variante audiovisuais e mídias interactivos; tenho uma pós-graduação em documentários que também é uma componente jornalística. Tenho várias formações em jornalismo, fiz Cenjor durante seis meses e de alguma forma tinha que pôr em prática aquilo que aprendi. Cenjor é considerado o maior centro de Jornalismo em Portugal. Tive formação na RTC também ligado ao jornalismo televisivo, Realização e Produção e obtive um diploma. Tenho várias especialidades que me habilitam a fazer atelier de criação sempre que o quiser.
Portanto eu estou, sempre, dentro das diferentes áreas a criar coisas novas. Mesmo nos vídeos pessoais que realizo a nível dos documentários a minha ideia é sempre inovar, trazer algo diferente, e é isso que tento passar nas minas aulas de atelier de criação. Penso que deve haver uma atitude descomplexada em relação às pessoas, não se pode rotular ninguém, criar estereótipos, isso não é criação, mas sim comodismo.




NI- Da sua experiência como Professor universitário qual é o melhor método para a disciplina de atelier de criação?
MA –
Tratando-se de uma universidade, não pode ser padronizado como um ensino secundário; os alunos não podem ficar à espera de "tpc" (trabalho para casa).O que se faz aqui é conciliar as duas coisas porque temos a consciência das dificuldades do ensino em Cabo Verde. Alguns chegam com dificuldades e sem preparação para estarem numa universidade, e às vezes misturam as metodologias. Existem excepções, mas há uma parte desse ensino que é assistencialista, mas nós temos que trazer coisas secundárias para que o aluno se recorde de alguma coisa. Ele é confrontado com conjunto de exigências que tem a ver com a vida universitária em que os requisitos são outros. O aluno já vem com o raciocínio suficientemente completo porque o 12º ano lhe dá isso. Se se não trabalhar este aspecto irá ficar sempre preso ao secundário e não consegue desenvolver um trabalho de cariz superior. Existem casos em que o professor tem de estar sempre a chamar atenção. Na universidade é errado pensar que um professor tem que estar a correr atrás do aluno, por exemplo; todavia, existem trabalhos que têm de serem avaliados, e eu tenho que avisar milhões de vezes, porque além de cuidar da própria disciplina,cabe-me também chamar o aluno à responsabilidade.




NI- Sente-se bem na sua profissão?
MA- Eu gosto, sinto-me muito bem e estou à vontade. Acho que sou o único, provavelmente, que tem esta liberdade com os alunos e com a própria disciplina. Isto permite-me explorar vários campos, isto é, não me limito a dar uma matéria conceptual como as disciplinas teóricas que têm programas rígidos. Houve uma mudança de programa em relação ao ano anterior, quando cheguei encontrei um programa muito rígido, não permitia ao aluno aventurar-se por muitas coisas. Assim, adaptei o programa, fiz várias pesquisas, trouxe novas perspectivas ao atelier de criação para os alunos de publicidade porque a disciplina foi mudada em 2 turmas e eu tive que mudar completamente o programa porque não havia forma de pôr os alunos a trabalhar. Então, criei séries de procedimentos empresariais: trazer-lhes briefing para fazerem cartazes, por exemplo, e obrigá-los a entregar em tempo oportuno; entre outras actividades. Com o de Jornalismo também tento criar essa ideia de que estamos numa redacção: a pessoa tem que estar constantemente a criar noticias, por isso levo para turma temas actuais sócio-politico cabo-verdiana para que esse programa se cumpra.


NI- Então tem o método democrático, deixa a criatividade por conta dos alunos e depois faz a avaliação?
MA
É isso mesmo. Mas eu estarei sempre em interacção com os meus alunos.

Fotografia & texto: Cândida Barros



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