O conceito de autoconsciência é tido, aqui, como uma pré-consciência que reflecte sobre uma dada matéria, de modo autoregulado. A partir disto o problema original que se coloca a Quintana é de que modo uma determinada autoconsciência realista lida com a lógica do acaso e do real. Para clarificar essa posição o autor traz-nos outros deslocamentos errantes do cinema moderno como a que se assiste, pontualmente, em El Sol de Membrillo (1992) de Victor Erice, filme que questiona a relação que o cinema estabelece com outros meios artísticos, nesse caso a pintura.
Na sua implicância de definir a natureza do cinematográfico (terminologia bressoniana) e a sua relação com o acaso, Victor Erice estabelece, nesse documentário, um campo de reflexão autoconsciente entre cinema e pintura, em que se constitui uma espécie de estúdio sobre as diferentes linguagens da imagem enquadrada sobre o peso que o tempo exerce sobre as imagens, sobre a geometria do espaço e sobre os movimentos imperceptíveis da natureza, que o pintor António Lopez, protagonista do documentário, procura captar ao pintar uma árvore – o membrillo.
Como Heraclito, na filosofia grega, e depois Nietzsche intuíram e sistematizaram, nunca estaremos certos de que se trata realmente da mesma árvore de há instantes atrás, o que levanta, assim, uma suspeição de base ontológica sobre o que é real e o que não é; o que está de facto presente no nosso espírito no instante em que reflectimos.
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