Consequentemente, os tratados cinematográficos realistas do cinema de Kiarostami, confluem, segundo Quintana, numa abstracção que atinge um nível de depuração máxima, por exemplo, no filme Bad maara jahad boro(1999) (El viento nos llevará) em que um grupo de cineastas chega a um povoado, no norte de Irão, para filmar uma costumeira cerimonia ritual que se realiza sempre que uma pessoa morre naquela região. Intrigante é que os cineastas esperam que se produza a morte de uma idosa moribunda mas só que, no meio dessa pulsão pela morte, algo mais se afirma: a vida. Os cineastas acabam por filmar tudo menos o ritual cerimonioso. Segundo Quintana, esta busca obsessiva e incessante do real que caracteriza o cinema de Kiarostami conduz o cineasta a uma posição próxima do cinema de Robert Bresson, ou seja, como ele afirma: «construir el universo de las imágenes a partir de las marcas de lo visible, forzando la actividad mental del espectador» (Quintana, 2003:242). Enquanto se espera pelo motivo, Kiarostami não mostra sequer as personagens chaves para a compreensão do relato, deixando ao espectador a tarefa de fazer o seu «exercício sobre o visual» que apela de forma directa à sua consciência activa, como fez, aliás, Bresson em Fugiu Um Condenado Á Morte (1956) filme no qual nunca chegamos a ver os guardas prisionais, nem o chefe da penitenciária, ou, sequer, as instalações.
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