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sexta-feira, maio 25, 2012

PRELÚDIOS SOBRE O ESTATUTO DO ARTISTA (4)

O Papel do Artista e o Público


Dickie (2008) defende que a ideia das teorias tradicionais de que o papel do artista é simplesmente o de produtor de representações, formas simbólicas, expressões, ou algo semelhante, torna-se limitada. Segundo este autor, o papel do artista tem de ser mais do que a produção de todos os tipos de coisas equacionados pelas teorias tradicionais pois a sua actividade excede em muito o simples entendimento e o fazer existente nas artes tradicionais. Essa dimensão extrapolada do papel do artista é descrita, pelo autor, na seguinte passagem:

“Sempre que um artista cria Arte, fá-lo para um público. Consequentemente, o enquadramento tem de incluir um papel para o público a quem a arte é apresentada. Claro que, por várias razões, muitas obras de arte nunca são apresentadas, de facto, a qualquer público.” (pp. 141)
 Sendo assim, levanta-se a questão: “o que é um público no mundo da Arte?”. A resposta de Dickie (2008) é de que o público não é apenas um conjunto de pessoas mas, sim, algo que se pode chamar de «grupo de apresentação» que tem, segundo o autor, dois aspectos centrais: “primeiro, um aspecto geral, característico de todos os públicos, nomeadamente, a percepção de que o que lhe apresentam é Arte e, segundo, a capacidade e sensibilidade que permitem percepcionar e compreender o tipo particular de Arte que se lhe apresenta” (Dickie, 2008: pp. 142). Isso significa que pode ocorrer o caso de um artista produzir arte e não ter público, isto é, ter apenas um conjunto de pessoas que não está a compreender nada. Alguma vanguarda artística é confrontada com essa realidade o que nos empurra, necessariamente, na direcção de uma outra abordagem, com apreensão de aspectos estético-político da Arte, em geral. Quais as implicações disso para a criação d’ O Estatuto do Artista? A resposta é que, para ser algo operacional, o Estatuto deverá manter, no seu cerne, os conceitos-âncora artista – público e esperar a plena assunção de uma provável vanguarda artística que se debate, ainda, com questões culturais e de “motivação”. 

Nesta óptica, segundo Hauser (2000), a rede de relações que se desenvolve entre o artista e o seu público é tão mais complexa quanto o nível de cultura praticado e o quadro social em que estiverem inseridos. Para uma vanguarda artística o «background social» assume contornos mais obscuros uma vez que se está à procura de leis próprias. Pode-se compreender aqui  a angústia de Charlie Parker no longo acordar do be bop no cenário da Música Jazz , sob o fundo eminentemente social dos praticantes do middle jazz.  O génio deste jazzman ainda não tinha público, antes dos anos 40. 

Sobre esse assunto Hauser (2000) pressupõe um quadro de maior complexidade ao afirmar que “sempre houve um elemento de tensão entre a qualidade e a popularidade da arte.” (pp.982).

Na Foto: Charlie Parker

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