O Papel do Artista e o Público
Dickie (2008) defende que a ideia das teorias tradicionais de que o papel do artista é simplesmente o de produtor de representações, formas simbólicas, expressões, ou algo semelhante, torna-se limitada. Segundo este autor, o papel do artista tem de ser mais do que a produção de todos os tipos de coisas equacionados pelas teorias tradicionais pois a sua actividade excede em muito o simples entendimento e o fazer existente nas artes tradicionais. Essa dimensão extrapolada do papel do artista é descrita, pelo autor, na seguinte passagem:
“Sempre que um artista cria Arte, fá-lo para um público. Consequentemente, o enquadramento tem de incluir um papel para o público a quem a arte é apresentada. Claro que, por várias razões, muitas obras de arte nunca são apresentadas, de facto, a qualquer público.” (pp. 141)
Sendo assim, levanta-se a questão: “o que é um público no mundo da Arte?”. A resposta de Dickie (2008) é de que o público não é apenas um conjunto de pessoas mas, sim, algo que se pode chamar de «grupo de apresentação» que tem, segundo o autor, dois aspectos centrais: “primeiro, um aspecto geral, característico de todos os públicos, nomeadamente, a percepção de que o que lhe apresentam é Arte e, segundo, a capacidade e sensibilidade que permitem percepcionar e compreender o tipo particular de Arte que se lhe apresenta” (Dickie, 2008: pp. 142). Isso significa que pode ocorrer o caso de um artista produzir arte e não ter público, isto é, ter apenas um conjunto de pessoas que não está a compreender nada. Alguma vanguarda artística é confrontada com essa realidade o que nos empurra, necessariamente, na direcção de uma outra abordagem, com apreensão de aspectos estético-político da Arte, em geral. Quais as implicações disso para a criação d’ O Estatuto do Artista? A resposta é que, para ser algo operacional, o Estatuto deverá manter, no seu cerne, os conceitos-âncora artista – público e esperar a plena assunção de uma provável vanguarda artística que se debate, ainda, com questões culturais e de “motivação”.
Nesta óptica, segundo Hauser (2000), a rede de relações que se desenvolve entre o artista e o seu público é tão mais complexa quanto o nível de cultura praticado e o quadro social em que estiverem inseridos. Para uma vanguarda artística o «background social» assume contornos mais obscuros uma vez que se está à procura de leis próprias. Pode-se compreender aqui a angústia de Charlie Parker no longo acordar do be bop no cenário da Música Jazz , sob o fundo eminentemente social dos praticantes do middle jazz. O génio deste jazzman ainda não tinha público, antes dos anos 40.
Na Foto: Charlie Parker
Sobre esse assunto
Hauser (2000) pressupõe um quadro de maior complexidade ao afirmar que “sempre houve um elemento de tensão entre a
qualidade e a popularidade da arte.” (pp.982).
Na Foto: Charlie Parker
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