Pablo Picasso
O Artista e a
Criação
Sobre a relação que o processo da criação na Arte mantêm com
as ideologias políticas, o estudioso Argan (1995) lança-nos este terrível
epigrama: “toda a arte do século XX está, directa, ou indirectamente,
relacionada com a situação política” (Argan,1995: pp. 39). Todavia destaca o
aparecimento da École de Paris como a
ars liberalis autêntica, desligada da
política e dos «ismos» da arte contemporânea. (Argan, 1995: pp.41). No tour de force que o artista mantém com o
status quo político poucos artistas
se podem dar ao luxo de permanecer em absoluto na esfera estrita da criação
artística. Neste particular, Argan refere a figura de Picasso que, segundo ele,
“permaneceu como o modelo do «génio criador» que muda de estilo sem perder a
sua própria consciência”. A sua invenção do cubismo, e a sua aventura pelo
surrealismo e abstracção geométrica, foi, na perspectiva deste autor, (Argan, 1995). «só para
demonstrar que, se as correntes e os movimentos têm todos uma razão de ser, não
constituem senão a oportunidade contingente de realizar aquela incoercível
actividade que é própria do artista (…).”. E teve ainda
tempo de se aproximar da vida política na esfera comunista, numa das diferentes
fases da sua vida. Nesta linha de ideias, a figura do artista identifica-se
com algo de mais intrínseco e inato, aquilo que faz existir o «génio criador»
de Picasso ou o «génio maldito», à semelhança de Rimbaud ou Charlie Parker.
Porém,
reivindicar a personalidade do artista tal como o fez o pintor e teórico
Cennini, no século XIV, não basta para definir a respectiva posição. É que todo
o artista deve ter um papel na
sociedade e, fundamentalmente, um público
(mesmo que seja reservado em tertúlias literárias
de cafés fumarentos ou em jam
sessions no backstage de um bar pub qualquer). Na idade contemporânea, a
ideia de um artista que não sabe se explicar perante a obra entrou em desuso e
a sua Arte passou a estender-se, assim, ao modo como ele se expressa por
escrito ou oralmente sobre a obra produzida. Com a onda de pirataria epidémica
na música, e no audiovisual, é cada vez mais compreensível que assim seja,
pois, isso obriga o artista a desdobrar-se em concertos, jam sessions, workshops, palestras e defesas de direito de autor alargando, assim, o espectro da sua
actuação enquanto criador da obra.
Sem comentários:
Enviar um comentário