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quarta-feira, maio 23, 2012

PRELÚDIOS SOBRE O ESTATUTO DO ARTISTA (2)

Diego Velásquez, Las Niñas.(1656)

O Artista e a Profissão
 O esforço do Artista no sentido da sua profissionalização, ao longo dos séculos, foi já estudado por Argan & Fagiolo (1994) autores da obra “Guia de História da Arte” confinada ao mundo Ocidental. Segundo estes autores, entre os séculos XI – XIV, o pintor, epítome do artista, não era tido como um artista, como o entendemos hoje, mas sim, como uma espécie de «medianeiro» entre a igreja e os fiéis. No século XIV, o pintor e teórico Cennini reivindica, pela primeira vez, a personalidade do artista e classifica a arte entre as artes mecânicas na escala hierárquica, logo a seguir à ciência. Nessa altura o artista era, fundamentalmente, um artesão e pertencia a corporações. Giotto organiza a 1.ª oficina com pendor comercial, no século XV, altura em que Donatello e Michelozzo, Frei Bartolomeu e Albertinelli organizam-se em sociedades que funcionam como estruturas operativas. Brunelleschi, Leonardo da Vinci [e Durer] desenvolvem a técnica, essencialmente decalques, gravações, manequins, máquinas, etc. No seculo XVI, especificamente no ano de 1563, nasce a Academia das Artes do Desenho em Florença com Cosimo e Miguel Ângelo. Em 1594 surge um novo modelo de Academias: escolas ligada ao centro de propagação das artes, pela mão de Federico Zuccari. No século. XVI-XVII assiste-se ao dealbar de diversas academias e escolas de artes que evoluíram para fundações literárias, científicas e instituições privadas, na actualidade. Os autores destacam, ainda, a erudição e o cultivo das letras que caracterizavam (e caracterizam) os artistas:

“Não se pode descurar um aspecto particular como a da cultura literária e filosófica dos artistas, cada vez actualizados, sobre os textos: os artistas do século XVII consultam a Iconologia de Ripa, assim como os do século XIV conheciam o tratado sobre óptica de Witelo; e quase todos se documentavam mediante textos ilustrativos” (Argan & Fagiolo, 1994)
Só no século XVIII é que as grandes exposições passaram a ser os canais de propagação e divulgação das artes, começando, no mesmo século, a ligação directa do artista à sociedade que recrudesce com a revolução francesa. No século XIX a pintura sofre um choque que viria a transformar toda a arte plástica posterior: a invenção da fotografia. A passagem dos séculos XIX – XX representa o período da invenção do Cinema a 7.ª arte, que viria a configurar um novo cenário no campo das artes que obrigará a uma nova redefinição de público, aspecto que iremos referir mais adiante. Nessa altura ocorre a modernização dos referidos modelos de organização nevrálgicos e a arte produzida viria a sofrer, em termos estéticos, uma politização extrema com o socialismo soviético e, em termos criativos, uma limitação atroz, pelo nazismo alemão, com a consequente eliminação das artes consideradas degenerativas, em pleno século XX.

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