Claude Monet, The Poppy Field.
Para Read (2007), existem dois princípios orientadores na
Arte: primeiro, o princípio da forma, que
é a configuração que uma obra de arte toma, e que pode ser dada não só por quem
faz música ou pinta, mas também por aquele que faz móveis, sapatos ou vestidos,
o que alarga o espectro no qual se firmam vários graus de artistas;
segundo, o princípio da invenção, próprio
do espírito do homem e que o impele a criar. Para Read (2007) a forma surge
instintivamente ao artista e corresponde às formas elementares existentes na
natureza, isto é, resulta da percepção do artista, como refere o autor na
seguinte passagem:
“Símbolos,
fantasias, mitos que só tomam uma existência objectiva universalmente válida em
virtude do princípio de forma. A forma é uma função da percepção; a originação é uma função da invenção. Estas duas actividades mentais esgotam, no seu
intercâmbio dialéctico, todos os aspectos psíquicos da experiência estética.”
(Read, 2007: pp.49)
No processo interior, criativo e orgânico, da experiência
estética pode se afirmar que o artista inventa a forma, isto é, dá à sua
experiência íntima uma configuração exterior que se pode compreender numa tela,
por exemplo. Este autor original afirma, com consequências imprevisíveis na sua
análise, que a vida é essencialmente estética «em virtude da encarnação da
energia numa forma que não é, meramente material, mas estética». Com isso
estende a sua análise ao que é discernível na evolução do próprio universo e
põe a arte no centro vital da actividade humana com todas as consequências que
daí advêm, como por exemplo, o uso da arte em técnicas de aprendizagem, e, pela
mesma ordem de ideias, em terapias psicanalíticas, num processo peculiar que se
deve entender como uma reconversão da
vida. Compreende-se, assim, a sua formulação inicial de que a arte é um
mecanismo orientador que, em princípio, (re)estabelece ou (re)apreende o
equilíbrio, contra o caos espiritual.
Esta
posição teórica não nos permite, ainda, equacionar e delimitar o que deve ser
considerado Arte e quem deve ser considerado artista. Para que a «festa» não
fique abarrotado de gente e rompa pelas costuras há que saber distinguir a
atitude estética da Arte, no seu sentido originário: quando fazemos um tattoo
nos braços e vestimos-nos de negro, todos os santos dias, isto é a atitude
estética; e quando produzimos um quadro de uma personagem com essa mesma pose
sob um solarengo e paranóico amarelo estamos a fazer Arte ou, pelo menos, a
desafiar os seus limites.
Sem comentários:
Enviar um comentário