Com o processo de digitalização completa dos estúdios a aposta da TCV tem-se virado, actualmente, para grandes formatos. Basta olhar para o esforço encetado, ultimamente, por este canal em equilibrar uma certa identidade nacional com uma espécie de aculturação, como é o caso específico do programa matutino «Show da Manhã» , que se aproxima de uma outra forma de fazer televisão, que já fez escola, ao combinar valores universalistas, de sã convivência, com entretenimento. Um tipo de programa que deve ganhar a sua especificidade na transmissão em directo porque envolve actualidade, instantaneidade e realidade vivida no presente momento. O objectivo desse tipo de programas é o de acompanhar as pessoas no seu dia-a-dia, geralmente donas de casa e crianças. A sua reposição, por contingências de produção, como tem acontecido tantas vezes na TCV, é um contra-senso.
A questão de se saber se a TCV dá uma resposta variada à situação cultural cabo-verdiana actual nunca poderia ser afirmativa à luz das novas propostas culturais, urbanas, e de incursão em novos formatos televisivos como talk shows, comics, contra-informação política, programas especializados de cultura e arte apresentados por jornalistas também especializados, ou à vista das novas experimentações visuais e estéticas que o audiovisual tem sofrido nestes últimos anos. Ao não abrir-se a novas manifestações a TCV perde elasticidade na abordagem aos assuntos, fenómeno que, segundo Katz (1999), ocorre, em maior ou menor grau, sempre que os conglomerados técnicos são reformulados para uma reprodução em massa.
Para darmos conta disso basta observar o conteúdo dos dois programas culturais actuais mais destacados - “26 minutos com…” e “Código de Vida” -, que já não conseguem ir para além do mero perfil artístico dos representantes da nossa cultura (a maior parte delas pertencentes ao mundo da música) num registo warholiano daquela que é uma espécie de Fábrica da Cultura Cabo-verdiana. Acresce a isso outras lacunas, no conjunto da programação, que se prendem com elementos como o horário de programação, a classificação das audiências e o contacto profissional com novos estilos audiovisuais e géneros televisivos, como por exemplo, os chamados documentários de criação , que ainda não são considerados em toda a sua complexidade imagética e no seu impacto na formação do conhecimento e das mentalidades. Actualmente, a maior parte dos programas de conteúdos culturais enquadram-se no género televisivo reportagem, em vez da abordagem a um estado real das coisas que o género documentário compreende, isto é, narrativas e visões particularizadas de quem vive permanentemente um conjunto de situações para depois os exprimir com tempo e dinheiro.
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