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terça-feira, junho 05, 2012

CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS CULTURAIS NA TCV (1)


A cultura na sua vertente ideológica.
A cultura crioula sempre esteve aí, no seio do povo como factor identitário que recebe, desde sempre, os reflexos da globalização e das novas tecnologias de comunicação e informação. Mas, fundamentalmente, é preciso entender que a cultura sempre esteve ligada à ideologia, como defende Geertz. Por sua vez, Hall (2009) explica como é que a ideologia actua sobre o discurso e actua dentro dela. Essa actuação deve-se à conotação que qualquer discurso detêm, isto é, o seu sentido é menos fixo e mais fluido do que a simples denotação. Segundo ele, regra geral, raramente os signos organizados em discurso significarão somente seus sentidos «literais» (Hall:2009) dependendo de seu posicionamento no campo discursivo, como afirma na seguinte passagem:


“O nível de conotação do signo visual, de sua referência contextual e do seu posicionamento em diferentes campos discursivos de sentido e associação, é justamente onde os signos já codificados se interseccionam com os códigos semânticos profundos de uma cultura e, assim, assumem dimensões ideológicas adicionais e mais activos.”  [HALL, 2009: p. 373]
Desde as primeiras emissões deste canal público que a preocupação de trazer a cultura cabo-verdiana ao ecrã se impôs naturalmente, tendo iniciado com os concertos em estúdio de grupos musicais ou pequenas reportagens com artistas e artesãos. Mais tarde assistiu-se, nos anos 90, ao recrudescer da tradição santiaguense e a um revivalismo na música e na escultura, com manifestações folclóricas que tiveram, naturalmente, uma clara repercussão nos programas de televisão e nas práticas de produção audiovisual de grupos[1]. Esse fenómeno social e cultural é o resultado daquilo que Geertz alega como sendo “uma tensão que tem como resposta a ideologia”. Nesta linha de ideias, pensamos que a «confluência de uma tensão sócio-psicológica» que vem desde o período colonial prepararia o cenário para o aparecimento de ideologias que preconizam o revivalismo cultural de Santiago, o que criou de modo catártico um cenário cultural em ruptura completa com o passado colonial recente, deslocando o epicentro cultural de S. Nicolau, Mindelo e suas noites de mornas e coladeiras para uma cidade da Praia prenhe de valores autóctones recalcados, nomeadamente, o batuque, o funaná e a variante da língua crioula de Santiago. Referimo-nos, aqui, a uma querela sobejamente conhecida, polemizada e vivida de há duas décadas para cá, e que envolve intelectuais, homens da cultura, que se dividem em «puristas» do folclore santiaguense, «modernistas» mindelenses, «saudosistas» do antigo seminário de S. Nicolau, e, de um modo geral, os inconformados com a actual situação vivida na cultura cabo-verdiana.


[1] Sobre este assunto consultar a obra «Cultura Audiovisual em Cabo Verde» de Mário Vaz Almeida editado pela SOCA Edições em 2010.

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