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quarta-feira, julho 06, 2011

FILMAR O COMEÇO DA INDEPENDÊNCIA

Foto cerimónia/evento: dia da independência de Cabo Verde, 5 Jul 1975, Praia, Santiago, Cabo Verde. militar ao centro, a segurar a nossa primeira bandeira para ser içada em seguida. Cerimónia no campo de futebol da Várzea.


Nos anos 70 em Cabo Verde, o facto mais marcante no cenário da “contracultura” e da emancipação de uma cultura popular e autóctone face ao poder simbólico do império colonial português, pode ter sido a criação do Cine Clube da Praia, ao qual se outorgava a 7 de Maio de 1975 o respectivo Estatuto. Anastácio Filinto Correia e Silva, [cinéfilo, homem da cultura cabo-verdiana (60-70), e um dos organizadores] enquanto cidadão, ia falando com as pessoas e “arranjando coisas sem atrevimento de querer mandar mensagens”. Isso, nas palavras do referido activista que fora, provavelmente, um dos poucos com pretensões claras relativamente à uma contracultura e emancipação de novos valores, mais radicados no indivíduo. Antes do cair da independência, conheceu o operador de câmara – o Betinho Melo - e convidou-o a fazer uma “coisa” histórica: filmar o começo da independência. “Para que Portugal pudesse assinar a declaração, Cabo Verde teria de fazer uma manifestação de força” “Fizemos, então, um pacto: se a população fosse votar (mesmo que seja um partido único, um voto dava para a vitória) filmava-se o acto. Mais ainda, trabalhou-se no duro para que houvesse uma votação que se visse. Toda a gente que tinha uma câmara de filmar se predispunha a ajudar. A Casa Comercial Serbam ofereceu as películas” confessou-nos o ex-radialista.

Num acto sem precedentes ocorria, pela primeira vez, a primeira manifestação de uma contracultura radicada no vídeo e na liberdade de expressão, sob um acontecimento único na história de Cabo Verde. Segundo afirmações do ex-activista, teve que se explicar o processo aos que entravam pela primeira vez nesse jogo de representações, de como se devia filmar, os movimentos que a pessoa devia fazer, e, fundamentalmente, a ideia de que se devia emprestar o próprio corpo para um filme. Toda essa história da emancipação caboverdeana, pelo cinema e depois, pelo vídeo, foi-nos confiada, entrecortada nas palavras deste homem da cultura (a).


Para a história documentalizada ficava, todavia, o registo de 32 minutos sobre a Independência Nacional editado em DVD, realizado por Lennart Malmer e Ingela Romare em 1975, e posta em circulação juntamente com uma emissão radiofónica de 45 minutos do programa nocturno de 04 de Julho de 1995, conduzido por Carlos Gonçalves, intitu¬lado Retrospectivas das Festas de 5 de Julho de 1975.


(a) O vídeo em causa ainda esteve em circulação nas maõs dos dirigentes políticos de então, mas depois desapareceu sem deixar rastos. (Uma história que já conhecemos do caso «O Segredo de Um Coração Culpado»).

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