A propósito do esforço natural em traduzir o que nos vai na alma e na mente, trazemos, aqui, a expressão “tempos barrocos” introduzida por J.F. Lyotard (1984) relativamente à uma definição complementar que associa “psico-cultura” à nossa própria condição pós-moderna: uma “psicocultura” do happening, do viver dia-a-dia, da ausência de “meta-narrativas”, algo que está na base da nova vaga de «video-idiotia» que circunda o meio artístico.
José Angel Lopez Herrera (2000) levou às últimas consequências esta problemática, ao afirmar que esse tempo psico-cultural do pós-modernismo, presente na nossa personalidade, encontrou, nos media, o meio mais útil para manter e nutrir a situação de forma aparente, mas “radicalmente mentirosa”. Para Lopez Herrera “os media são os instrumentos intuitivos permanentes, sugestivos e animadoras que, gerando uma sensação de liberdade, já que apelam a estruturas superficiais da personalidade, realmente nos submetem embasbacadamente às suas linguagens, interesses, crenças, ideias, que interessam a certos grupos de poder.” (HERRERA: 2000).
O pós-moderno “com estilos de particularidade, superficialidade e absoluta relatividade ao momento” leva-nos a procurar outros caminhos psico-culturais para construir outras identidades, com outras possíveis e efectivas linguagens.” Nesta situação particular, Herrera propõe a criação de irmandades, em diversos domínios da criação. Trata-se, no nosso entender, de uma nova postura intelectual que se abre à uma maior prospecção aos fenómenos culturais e sociais e aos valores universalistas.
O novo “expedicionário” do vídeo terá, assim, forçosamente, que evitar relacionamentos lineares; desfazer o medo de “umbrais” de sentido; tomar como natural as contingências da nossa produção nacional, que devem ser vistas como simples etapas a ultrapassar; buscar uma maior capacitação tecnológica; evitar estribilhos como aquele de que o povo cabo-verdiano só tem apetência para a música; e trilhar os caminhos da ficção cinematográfica, aventurando-se por essa nova possibilidade expressiva para, assim, entrar num novo ciclo. Para isso alguns pré-requisitos deverão ser levados em linha de conta: se houver, como propõe Herrera, a criação de irmandades em diversos domínios da criação; se emergir a consciência de que o trabalho de equipa é muito mais importante que a obsessão individual e o laxismo; e que o correcto ajuizamento é de que uma criação nunca é completamente original e individualizada.
Cumpridas estas condições as coisas poderão melhorar significativamente no meio artístico que se avizinha. Home videos e pequenas produções terão, certamente, o seu devido valor enquanto arte e afirmação no seio de uma camada juvenil que já não quer tanto ler ou escrever mas, sim, filmar.
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