Na relação que o cinema mantém com a pintura, o autor traz à sua reflexão La belle noiseuse (1991), de Jacques Rivette no qual um pintor protagonista, Frenhofer, busca a mestria artística através de uma possível revelação que lhe aparece no gesto espontâneo de uma rapariga, um gesto que esconde uma verdade que não pode ser mostrada porque tornar-se-ia obsceno traindo, assim, a verdade íntima do ser. Este intrigante novelo, em que o artista se debate com a ilusão representativa, serve de ponto de partida para a análise que Quintana empreende sobre a obra cinematográfica de Jean Marie Straub e Daniéle Huillet, nos anos sessenta, na qual expõe a temática específica dos limites da reprodução mimética e da reivindicação autoconsciente da força reprodutora do médium cinematográfico. Segundo o autor, as bases do pensamento de Straub e Huillet estão radicadas nas doutrinas brechtianas de consciência crítica e de ruptura epistemológica bem como nas ideias de André Bazin sobre o aspecto reprodutor do cinema. Referindo-se a um conjunto de trabalhos deste par de cineastas, o autor destaca a filmagem de Moses und Aron, ópera de Arnold Schônberg, em que se assiste a uma reprodução mimética da Arte, o que se deveu ao imperativo de não se interferir com a força expressiva da peça. Quintana define a obra destes cineastas na seguinte afirmação:
«A diferencia de Eric Rohmer, Victor Erice o Jacques Rivette, la peculiaridad del trabajo de Straub e Huillet reside en lo que su cámara – como instrumento de reproducción – filma no es esencialmente el mundo, sino la matéria de las obras de arte…»(Quintana, 2003: 227).
Isto é, na relação que Straub e Huillet estabelecem com a matéria artística, a Arte aparece, ela própria, como natural, em vez do mundo do qual ela é representativa.
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