HALL, Stuart*. (2009). Da Diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Edições Horizonte.
HALL, Stuart*. (2009). Da Diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Edições Horizonte.
«Ser sujeito é auto-afirmar-se situando-se no centro do mundo, o que é literalmente expresso pela noção de egocentrismo.»
Edgar Morin
Quem vai dizer agora à Dona Engrácia, mulher do povo, que vive na localidade de Pensamento que não, que o Presidente que ela viu na televisão já não é o Presidente da República, se ela insiste em dizer que sim, porque o viu, ainda, a atribuir medalhas aos jornalistas ontem á noite na televisão. Não, Dona Engrácia a senhora tem que parar de ver a TCV. Ontem, a senhora apenas assistiu a uma meta-representação. «Meta-quê?».«Pois é, Dona Engrácia, a senhora não iria compreender. É que nestas coisas o povo não tem razão, não tem olhos nem ouvidos. É massa amorfa!».
O que pensar da responsabilidade para com a visibilidade das coisas quando são os próprios profissionais que aparecem no centro dessa visibilidade? Levado por quem? Conduzido por quem, à visibilidade máxima? Por um ex-Presidente altruísta ou egocêntrico? Talvez, altruísta com o ego dos outros, que o digam os jornalistas que vêem o seu ego «engordar» um bocadinho. Bem o merecem! Pelo trabalho meritório que têm desenvolvido desde sempre em Cabo Verde.
Mas porque só agora? E só para a maioria dos profissionais da RTC? E os da imprensa escrita? Porque não antes das eleições presidenciais? Bem, são coisas que devemos guardar dentro de nós: é isso a ética**. Face a isto nem é preciso a Constituição da República para validar o acto.
Edgar Morin ao falar de ética afirma que «o seu imperativo provém de uma fonte interior ao indivíduo que sente no seu espírito a imposição de um dever» mas para Wittgenstein, o senhor do Tractado Logico-Filosófico, bem vistas as coisas, «é impossível falar de ética».
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** Em “Amistad” o líder da rebelião interpretado por Djimon Hounsou, desalentado, por ainda ter que permanecer nas terras do Tio Sam, por que se remeteu recurso no tribunal, afirma com veemência que na sua terra não existe um seria, ou seja, não existe uma conjugação vital na condicional. Para ele existe um Ser e ponto final - uma coisa é ou não é. Demasiado redutor, mas constitui, igualmente, uma ética.
2. O Homem. O ministério que lhe fora atribuído é a sua cara, como um fato feito à medida. Porém, entra em desacordo com o líder do Partido e apoia a candidatura de AL. O seu pedido de exoneração, na consequência da derrota deste nas eleições, não deveria constituir necessariamente uma derrota política dele, para que fosse afastado do cargo. Até aqui ainda se aceitava a razoabilidade das suas acções. Porém, a sua derrota, a mais aparatosa, é o facto de ter pedido a todos que votassem no Manuel Inocêncio Sousa. Inaceitável para um espírito sóbrio! Isso fez tremer muito a sua imagem de homem de carácter.
3. O Carrasco. Agora que estamos no Presente do Indicativo, a cabeça dele é servida de bandeja à mesa do Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca e o seu carrasco é o Primeiro Ministro, José Maria Neves que vai despedaçar e distribuir o seu corpus ministerial pelos vários cantos ministeriais do seu governo
4. A Lenda. A História de Filú** terminaria aqui se os Homens não fizessem, também, Lendas. Não fosse, igualmente, a presença inexcedível do Pai Político que pelos vistos não arreda pé e já disse, uma vez, que se deve contar com ele. O próximo treino político de Filú pode já ter começado a estas horas. Assistiremos a uma rentrée política de Filú daqui há uns dias, meses, anos?
5. O Desfecho. Os militantes tambarinas sempre falaram em duas sensibilidades no seio do seu partido – a de Filú e a de José Maria Neves – e o facto de Pedro Pires ter, aparentemente, apoiado Aristides Lima, pondo-se ao lado de Filú, significa que é a sensibilidade deste que prevalece. E se o processo histórico desse partido não o confirmar, a Lenda se encarregará de fazê-lo. Pois claro, a Lenda: algo que só se compreende no coração dos Homens.
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**Nota: Filú é visto aqui como a imagem lendária do político que foi forjada e conduzida pelos seus militantes e não pelo indivíduo nascido de nome Felisberto Vieira (que deve estar a rir-se de si próprio como um bom cristão, nunca se compadecendo de si mesmo. Como ele deve saber: nenhuma divindade se compadece da nossa impotência.
Na democracia o Povo é quem decide. O povo sempre tem uma razão.
1.Vitória. A vitória de Jorge Carlos Fonseca nestas eleições presidenciais traz um dado novo à nossa política. A democracia caboverdeana está de parabéns! Basta ver o modo como tem oscilado, a esse nível, a sucessão dos senhores na casa cor-de-rosa. Nesse capítulo, as presidenciais escaparam às grandes jogatanas, ao tudo por tudo que empesta as legislativas.
2.Nova Realidade Política. Respira-se melhor no novo ambiente político que se formou. Provavelmente abrir-se-á um braço de ferro entre o Presidente e o 1.º Ministro; provavelmente cairá o governo; provavelmente haverá instabilidade política; provavelmente tudo corra pelo melhor sem grandes atropelos de poder; provavelmente … provavelmente…vamos ter que ouvir e ver melhor (o ranger de dentes, palavrões ditos entredentes, sorrisos amarelinhos depois de encontros governo vs. presidência, olhares cínicos, etc.).
3. Improbalidade da Comunicação. Improvável se torna, porém, a permanência da conjuntura anterior tal como temos vindo a assistir. A mudança que se queria com as legislativas chegará, certamente, com este novo Presidente de quem se espera alguma intransigência face aos riscos de inconstitucionalidade nas decisões governamentais. Como diria Niklas Luhman é preciso que o sistema e o meio estejam de acordo para que haja comunicação ipsis facto.
4. A Primeira – Dama. Mesmo sendo bonita, a nossa Primeira-Dama passará a pensar no estilo e nas roupas que passará a usar daqui para frente. Talvez arranje uma estilista particular que lhe oriente nesta fase em que todas as mulheres estarão de olhos postos na sua conduta e postura presidencial. E já se faz muita moda por aí. Uns mais sérios, outros mais naifs. Para já, ela é uma mulher à altura: tem presença e expressa-se bem. As boas acções sociais representarão, obrigatoriamente, a sua co-magistratura.
5. Casa cor de rosa. Mas fica a pergunta: onde é que os dois vão instalar arraiais já que a remodelação da casa cor-de-rosa onde deveriam ir logo nos primeiros dias do seu exercício irá demorar dois anos e meio num catabrum catabrum, sob a supervisão da China*? Um meio golpe de estado dado por PP que vai fazer sentir a sua sombra como um fantasma da ópera que ora se inicia? Mas que desfeita! Não deveria ser o novo inquilino a requerer a remodelação ao dono e proprietário? Um ex-inquilino nunca decide sobre uma remodelação, coisa alguma, só o dono e proprietário da casa o pode fazê-lo. Que significa isso?
Pela lógica escolástica (não erística) o conteúdo dessa anomalia fica assim: se PP manda remodelar a casa cor-de-rosa; logo PP é proprietário da casa; como o proprietário da casa é o Estado, logo PP é o Estado. Conclusão (forçosamente retórica): o PP é a personificação do Estado ?!! Bem, que eu saiba, mesmo que ele tenha sido isso ao longo destes 10 anos, já deixou de sê-lo a partir do dia 21 de Agosto de 2011.
Livra! Que prenda mais embaraçosa!
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* Obs: China não é só uma das maiores potências económicas mundiais. É também o maior aliado ideológico do PAICV e de todos os partidos africanistas independentistas. China, pelo seu poder económico e ideológico, tem servido de escudo protector da ex-políticas africanas de não-alinhamento, ocupando o lugar de sentido anteriormente equacionado pelo conjunto dos países não alinhados [com os valores das grandes democracias capitalistas planetárias]..
Os spots publicitários em qualquer televisão, pública ou privada, tem menos a ver com os mecanismos, vectores e a criatividade, em si, do que com a sua fugacidade. A comunicação publicitária na TV é uma comunicação com um ritmo imposto. Podemos comportar-nos como um flaneur nas páginas de uma revista magazine mas o ecrã da televisão não nos dá essa hipótese. Uma vez que a cada spot se segue imediatamente um outro, perdendo-se sem deixar traços, o nosso espaço mental é constantemente preenchido o que faz com que a nossa memória tenha que ser constantemente renovada a cada instante publicitário.
Sabemos que o som proporciona um nível de envolvência superior a imagem, o que se deve às nossas características perceptivas: o nosso ângulo de visão limita-se a um máximo de 180 graus enquanto que a nossa amplitude auditiva possibilita-nos a captação de sons a 380 graus. Essa capacidade de que o som tem de nos fazer emergir é, evidentemente, aproveitada para se vincar, pelo tonitruante volume sonoro, o momento em que passa o spot TV, que destoa de tudo o resto que existe na programação televisiva. Uma loucura consentida.
È cada vez maior a enorme exigência à volta da criação publicitária no que toca á mensagem e originalidade do conteúdo publicitário. Vemos frequentemente spots televisivos nos quais se ensaiam novas abordagens um tanto ou quanto deslocadas da realpolitik vivida pelos citadinos caboverdeanos. Acresce a isso o facto da rapidez de ofertas e a multiplicidade de incentivos ao consumo extravasar o próprio poder de compra dos nossos consumidores .
O papel jogado pelo som, voz off, música e efeitos especiais está definitivamente implantada no cenário de produção nacional: uma evolução que ocorreu num par de anos no nosso arquipélago. Em 1998 ainda se apalpava os terrenos da performance e da técnica audiovisual mas, actualmente, com a proliferação das novas tecnologias multimédia um criativo pode fabricar em modalidade in-house producion os seus produtos audiovisuais e aprimorar clips musicais e spots de forma descomplexada. Isso vem reconfigurando, sobremaneira, o cenário de produção publicitária em Cabo Verde. Uma pequena parcela da produção nacional de spot TV tem estado nas mãos de criativos isoladas que dispondo de um portátil e de um software de edição concebem os seus trabalhos, vendendo-os a terceiros – os anunciantes.