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sexta-feira, agosto 26, 2011

PARA MÁRIO LÚCIO SOUSA COM OS CUMPRIMENTOS DE STUART HALL

“As estratégias culturais capazes de fazer diferença são o que me interessa – aquelas capazes de efectuar diferenças e de deslocar as disposições de poder. Reconheço que os espaços «conquistados» para a diferença são poucos e dispersos, e cuidadosamente policiados e regulados. Acredito que sejam limitados. Sei que eles são absurdamente subfinanciados, que existe sempre um preço de cooptação a ser pago quando o lado cortante da diferença e da transgressão perde o fio na espectacularização. Eu sei que o que substitui a invisibilidade é uma espécie de visibilidade cuidadosamente regulada e segregada… [numa descriminação positiva (itálico meu)]. (HALL: p.321).

HALL, Stuart*. (2009). Da Diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Edições Horizonte.

A LÓGICA DOS TRÊS E: ÉTICA, EGOS E EGOCENTRISMO (EEE)

«Ser sujeito é auto-afirmar-se situando-se no centro do mundo, o que é literalmente expresso pela noção de egocentrismo.»

Edgar Morin

Quem vai dizer agora à Dona Engrácia, mulher do povo, que vive na localidade de Pensamento que não, que o Presidente que ela viu na televisão já não é o Presidente da República, se ela insiste em dizer que sim, porque o viu, ainda, a atribuir medalhas aos jornalistas ontem á noite na televisão. Não, Dona Engrácia a senhora tem que parar de ver a TCV. Ontem, a senhora apenas assistiu a uma meta-representação. «Meta-quê?».«Pois é, Dona Engrácia, a senhora não iria compreender. É que nestas coisas o povo não tem razão, não tem olhos nem ouvidos. É massa amorfa!».

O que pensar da responsabilidade para com a visibilidade das coisas quando são os próprios profissionais que aparecem no centro dessa visibilidade? Levado por quem? Conduzido por quem, à visibilidade máxima? Por um ex-Presidente altruísta ou egocêntrico? Talvez, altruísta com o ego dos outros, que o digam os jornalistas que vêem o seu ego «engordar» um bocadinho. Bem o merecem! Pelo trabalho meritório que têm desenvolvido desde sempre em Cabo Verde.

Mas porque só agora? E só para a maioria dos profissionais da RTC? E os da imprensa escrita? Porque não antes das eleições presidenciais? Bem, são coisas que devemos guardar dentro de nós: é isso a ética**. Face a isto nem é preciso a Constituição da República para validar o acto.

Edgar Morin ao falar de ética afirma que «o seu imperativo provém de uma fonte interior ao indivíduo que sente no seu espírito a imposição de um dever» mas para Wittgenstein, o senhor do Tractado Logico-Filosófico, bem vistas as coisas, «é impossível falar de ética».

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** Em “Amistad” o líder da rebelião interpretado por Djimon Hounsou, desalentado, por ainda ter que permanecer nas terras do Tio Sam, por que se remeteu recurso no tribunal, afirma com veemência que na sua terra não existe um seria, ou seja, não existe uma conjugação vital na condicional. Para ele existe um Ser e ponto final - uma coisa é ou não é. Demasiado redutor, mas constitui, igualmente, uma ética.

quarta-feira, agosto 24, 2011

FILÚ - A LENDA DAS PAIXÕES

1. A Imagem Política. Filú** é das coisas mais apaixonantes que há na política cabo-verdiana. Cai junto com o Pai político, Pedro Verona Pires. Comovente! Mas, quando muito, é só até aqui que se consegue salvar a sua figura.

2. O Homem. O ministério que lhe fora atribuído é a sua cara, como um fato feito à medida. Porém, entra em desacordo com o líder do Partido e apoia a candidatura de AL. O seu pedido de exoneração, na consequência da derrota deste nas eleições, não deveria constituir necessariamente uma derrota política dele, para que fosse afastado do cargo. Até aqui ainda se aceitava a razoabilidade das suas acções. Porém, a sua derrota, a mais aparatosa, é o facto de ter pedido a todos que votassem no Manuel Inocêncio Sousa. Inaceitável para um espírito sóbrio! Isso fez tremer muito a sua imagem de homem de carácter.

3. O Carrasco. Agora que estamos no Presente do Indicativo, a cabeça dele é servida de bandeja à mesa do Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca e o seu carrasco é o Primeiro Ministro, José Maria Neves que vai despedaçar e distribuir o seu corpus ministerial pelos vários cantos ministeriais do seu governo

4. A Lenda. A História de Filú** terminaria aqui se os Homens não fizessem, também, Lendas. Não fosse, igualmente, a presença inexcedível do Pai Político que pelos vistos não arreda pé e já disse, uma vez, que se deve contar com ele. O próximo treino político de Filú pode já ter começado a estas horas. Assistiremos a uma rentrée política de Filú daqui há uns dias, meses, anos?

5. O Desfecho. Os militantes tambarinas sempre falaram em duas sensibilidades no seio do seu partido – a de Filú e a de José Maria Neves – e o facto de Pedro Pires ter, aparentemente, apoiado Aristides Lima, pondo-se ao lado de Filú, significa que é a sensibilidade deste que prevalece. E se o processo histórico desse partido não o confirmar, a Lenda se encarregará de fazê-lo. Pois claro, a Lenda: algo que só se compreende no coração dos Homens.

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**Nota: Filú é visto aqui como a imagem lendária do político que foi forjada e conduzida pelos seus militantes e não pelo indivíduo nascido de nome Felisberto Vieira (que deve estar a rir-se de si próprio como um bom cristão, nunca se compadecendo de si mesmo. Como ele deve saber: nenhuma divindade se compadece da nossa impotência.

terça-feira, agosto 23, 2011

JORGE CARLOS FONSECA É O 4.º PRESIDENTE DA REPÚBLICA.

Na democracia o Povo é quem decide. O povo sempre tem uma razão.

1.Vitória. A vitória de Jorge Carlos Fonseca nestas eleições presidenciais traz um dado novo à nossa política. A democracia caboverdeana está de parabéns! Basta ver o modo como tem oscilado, a esse nível, a sucessão dos senhores na casa cor-de-rosa. Nesse capítulo, as presidenciais escaparam às grandes jogatanas, ao tudo por tudo que empesta as legislativas.

2.Nova Realidade Política. Respira-se melhor no novo ambiente político que se formou. Provavelmente abrir-se-á um braço de ferro entre o Presidente e o 1.º Ministro; provavelmente cairá o governo; provavelmente haverá instabilidade política; provavelmente tudo corra pelo melhor sem grandes atropelos de poder; provavelmente … provavelmente…vamos ter que ouvir e ver melhor (o ranger de dentes, palavrões ditos entredentes, sorrisos amarelinhos depois de encontros governo vs. presidência, olhares cínicos, etc.).

3. Improbalidade da Comunicação. Improvável se torna, porém, a permanência da conjuntura anterior tal como temos vindo a assistir. A mudança que se queria com as legislativas chegará, certamente, com este novo Presidente de quem se espera alguma intransigência face aos riscos de inconstitucionalidade nas decisões governamentais. Como diria Niklas Luhman é preciso que o sistema e o meio estejam de acordo para que haja comunicação ipsis facto.

4. A Primeira – Dama. Mesmo sendo bonita, a nossa Primeira-Dama passará a pensar no estilo e nas roupas que passará a usar daqui para frente. Talvez arranje uma estilista particular que lhe oriente nesta fase em que todas as mulheres estarão de olhos postos na sua conduta e postura presidencial. E já se faz muita moda por aí. Uns mais sérios, outros mais naifs. Para já, ela é uma mulher à altura: tem presença e expressa-se bem. As boas acções sociais representarão, obrigatoriamente, a sua co-magistratura.

5. Casa cor de rosa. Mas fica a pergunta: onde é que os dois vão instalar arraiais já que a remodelação da casa cor-de-rosa onde deveriam ir logo nos primeiros dias do seu exercício irá demorar dois anos e meio num catabrum catabrum, sob a supervisão da China*? Um meio golpe de estado dado por PP que vai fazer sentir a sua sombra como um fantasma da ópera que ora se inicia? Mas que desfeita! Não deveria ser o novo inquilino a requerer a remodelação ao dono e proprietário? Um ex-inquilino nunca decide sobre uma remodelação, coisa alguma, só o dono e proprietário da casa o pode fazê-lo. Que significa isso?

Pela lógica escolástica (não erística) o conteúdo dessa anomalia fica assim: se PP manda remodelar a casa cor-de-rosa; logo PP é proprietário da casa; como o proprietário da casa é o Estado, logo PP é o Estado. Conclusão (forçosamente retórica): o PP é a personificação do Estado ?!! Bem, que eu saiba, mesmo que ele tenha sido isso ao longo destes 10 anos, já deixou de sê-lo a partir do dia 21 de Agosto de 2011.

Livra! Que prenda mais embaraçosa!

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* Obs: China não é só uma das maiores potências económicas mundiais. É também o maior aliado ideológico do PAICV e de todos os partidos africanistas independentistas. China, pelo seu poder económico e ideológico, tem servido de escudo protector da ex-políticas africanas de não-alinhamento, ocupando o lugar de sentido anteriormente equacionado pelo conjunto dos países não alinhados [com os valores das grandes democracias capitalistas planetárias]..

sexta-feira, agosto 19, 2011

COMUNICAÇÃO PUBLICITÁRIA (III)

Os spots publicitários em qualquer televisão, pública ou privada, tem menos a ver com os me­canismos, vectores e a criatividade, em si, do que com a sua fugacidade. A comunicação publicitária na TV é uma co­municação com um ritmo imposto. Podemos comportar-nos como um flaneur nas páginas de uma revista magazine mas o ecrã da televisão não nos dá essa hipótese. Uma vez que a cada spot se segue imediatamente um outro, perdendo-se sem deixar traços, o nosso espaço mental é constantemente preenchido o que faz com que a nossa memória tenha que ser constantemente renovada a cada instante publicitário.

Sabemos que o som proporciona um nível de envolvência superior a imagem, o que se deve às nossas características perceptivas: o nosso ân­gulo de visão limita-se a um máximo de 180 graus enquanto que a nossa amplitude auditiva possibilita-nos a captação de sons a 380 graus. Essa capacidade de que o som tem de nos fazer emergir é, evidentemente, aproveitada para se vincar, pelo tonitruante volume sonoro, o momento em que passa o spot TV, que destoa de tudo o resto que existe na programação televisiva. Uma loucura consentida.

È cada vez maior a enorme exigência à volta da criação pub­licitária no que toca á mensagem e originalidade do conteú­do publicitário. Vemos frequentemente spots televisivos nos quais se ensaiam novas abordagens um tanto ou quanto deslo­cadas da realpolitik vivida pelos citadinos caboverdeanos. Acresce a isso o facto da rapidez de ofertas e a multiplici­dade de incentivos ao consumo extravasar o próprio poder de compra dos nossos consumidores .

quinta-feira, agosto 18, 2011

Debate JCAF vs. MIS. (Score): KNOCK OUT TÉCNICO!

Round 1. Transferência bancária em períodos de campanha. O primeiro knock down que JCAF infligiu a MIS foi no momento em que se referiu ao facto de, constitucionalmente, não se dever fazer transferência em períodos de campanha eleitoral [mesmo que uma testa de ferro como a Cristina Duarte pense que pode fazê-lo]. Esse gancho de direita foi aplicado a MIS numa altura em que ele, precisamente, se sentia seguro da sua argumentação erística* de quem tem sempre razão. Conseguiu, ainda, levantar-se sem perder a postura e a dignidade.

Round 2. Justiça. Neste capítulo MIS foi mesmo ao tapete, clamorosamente, por knock down! A questão da criação do Tribunal Constitucional – pedra de toque do Movimento para a Democracia – como garante efectivo da democracia e a do Provedor da Justiça como garante da justiça nos domínios civil e penal, foi, respectivamente, um gancho de direita seguida de uma esquerda em cheio no dossier levezinho e repetitivo de MIS. Ainda assim, conseguiu levantar-se passados 30 segundos.

Round 3. “Déja Vu”. Muitos momentos de debate foram repetitivos, uma vez que as perguntas tornaram-se recorrentes e as respostas iguais, sobretudo no que toca à posição política de ambos os candidatos. As manobras é que não resultaram bem. Falhou a arbitragem jornalística, que permitiu muitos descansos entre os "ombros suados dos lutadores".

Round 4. A Borboleta e a lagarta. MIS nunca chegou a levantar vôo, sempre metido no seu casulo. Teve um discurso amorfo e inconsequente. JCF esteve a saltar livremente de um lado para outro numa profusão de ideias e palavras, umas academistas outras politizadas, mas sem nunca deixar de se pautar pelo intelecto strictu sensus. Neste domínio JCAF é imbatível! MIS acabou pedindo clemência. Pareceu uma luta entre Muhammad Ali (Cassius Klay) e George Foreman.

Round 5. KNOCK OUT TÉCNICO! Dignidade Ofendida! Nas histórias de Kung Fu e outras Artes marciais um Mestre A de uma escola nunca envia um discípulo para lutar contra um outro Mestre B de uma escola diferente, se ele próprio (o Mestre A) anda estiver vivo. Normalmente essas grandes batalhas travam-se entre mestres de ambas as escolas. Foi, por isso, uma luta desigual entre o Mestre de uma escola política e o discípulo de uma outra escola. E agora quem vai vingar o discípulo? O seu Mestre? Ou um outro discípulo enviado pelo Mestre?
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* Dialética erística ( ou de como vencer um debate sem precisar ter razão) é um importante, porém inconcluso, acréscimo do sistema filosófico de Arthur Schopenhauer. Nele, Schopenhauer analisa os "principais esquemas argumentativos enganosos que os maus filósofos utilizam, com razoável sucesso, para persuadir o público de que 2 + 2 = 5",[1] baseando-se, principalmente, nos Tópicos de Aristóteles. Mencione-se que, por dialética erística, termo que constitui o subtítulo do livro, Schopenhauer entende "a arte de discutir, mais precisamente a arte de discutir de modo a vencer, e isto per fas et nefas (por meios lícitos ou ilícitos)" (In Wikipedia).

quarta-feira, agosto 17, 2011

A COMUNICAÇÃO PUBLICITÁRIA TELEVISIVA: SPOTS.

O papel jogado pelo som, voz off, música e efeitos especi­ais está definitivamente implantada no cenário de produção nacional: uma evolução que ocor­reu num par de anos no nosso arquipélago. Em 1998 ainda se apalpava os terrenos da performance e da técnica audiovisual mas, actualmente, com a proliferação das novas tecnologias multimédia um criativo pode fabricar em modalidade in-house producion os seus produtos audiovisuais e aprimorar clips musicais e spots de forma descomplexada. Isso vem reconfigu­rando, sobremaneira, o cenário de produção publicitária em Cabo Verde. Uma pequena parcela da produção nacional de spot TV tem estado nas mãos de criativos isoladas que dispondo de um portátil e de um software de edição concebem os seus trabalhos, vendendo-os a terceiros – os anunciantes.

A publicidade ganhou, assim, um efeito centralizador e catal­isador do médium televisivo: tornou-se o balaio dos sonhos e desejos do espectador encerrado num jogo de linguagem que apela constante e indirectamente ao produto e á sua presença na mente do consumidor.

Porém, no cenário de produção profissional o esforço em atingir a profundidade que a publicidade leva alguns dos nossos criativos e realizadores a munirem-se de sonoridades enigmáticas, de imagens edílicas, e de conceitos pseudo-intelectuais como forma a produzir um sentido de que a publicidade, pela sua natureza efémera, desconhece.

terça-feira, agosto 16, 2011

COMUNICAÇÃO PUBLICITÁRIA (2)

A um nível restrito da mensagem publicitária estabelece-se, assim, uma relação entre três facetas: conceito-produto-marca. Este triângulo relacional intrínseco a comunicação publicitária está presente em qualquer anúncio publicitário posicionando-se na esfera da significação simbólica: ao conferir vida a um produto, constrói-se, para lá das suas características, um mito à sua volta.

Para criar uma aura ou um mito a volta do produto, o realizador de um spot TV não faz mais do que instituir uma comunicação sobre uma mensagem única ilustrada e apoiada sob diversas formas; fundada sobre uma ideia criativa forte, visual e sonora, capaz de se imprimir no espírito do espectador; mas, sobretudo, uma comunicação onde uma certa dose de repetições conceito-produto - marca está assegurada, senão de forma natural, pelo menos de modo reinventado.

Henri Joannis ( MBA em Harvard Business School,) e Virginie de Barnier (MBA em Universidade de Wisconsin) fizeram, entre 2001-2004, um estudo aprofundado sobre milhares de spots, tendo estruturado todo o universo dos “spots televisivos” segundo dois critérios: mecanismos de comunicação empregues e vectores de comunicação que fazem mover esses mecanismos. Os primeiros descrevem encadeamentos de conceitos e o modo de descrição das satisfações enquanto que os segundos descrevem elementos físicos, imagens e as palavras que movem esses mecanismos. A estes elementos se juntam, então, a um nível criativo a ordem de ocorrência dos conceitos visuais; o tempo associado a cada sequência e o papel jogado pelo som (voz off, a voz síncrono, a voz cantada e diversas formas de música).

segunda-feira, agosto 15, 2011

A COMUNICAÇÃO PUBLICITÁRIA TELEVISIVA

Numa altura em que fomos submetidos à avalanche de campanhas políticas nas ruas e na televisão convém trazer aqui um conjunto de abordagens e preceitos acerca daquilo que constitui o substracto dessas campanhas: a comunicação publicitária.

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“A noção de cultura, tal como hoje é concebida, essencialmente publicitária, vê-se naturalmente levada a acarinhar as obras mais pesadamente simplificadoras para que se prestem melhor aos mecanismos da publicidade e depois a transferir pouco a pouco o princípio de valor das obras para o seu valor publicitário.”
Jean Dubuffet

O modelo experimental da persuasão defendida por Kapferer (1985) que, diferentemente da ideia de persuadir o recep¬tor que vigorou até aos anos 1980 [(modelo AIDA: Atenção * Interesse * Desejo * Acção, proposto por Joyce (1967)] traz-nos uma perspectiva construtivista em que o receptor, afectado cultural e psicologicamente, faz “algo” com as mensagens. Esse “algo” é, em certa medida, um enviesamento do carácter simbólico e emocional da marca, que o consumidor faz, deslocando o sentido e o alvo das suas motivações para um ângulo diferente da sua vida. Esta mudança de paradigma das comunicações publicitárias, do modelo AIDA para a visão construtivista, só foi possível por se terem aumentado as abordagens experimentais que permitiram superar a visão me¬canicista da comunicação e consequentemente da publicidade. Ao ser transportada para a comunicação de marca, esta visão experimental traz profundas alterações. Já era preciso pen¬sar em publicidade, não apenas a partir da empresa e marca, mas também a partir dos consumidores e demais públicos receptores num espaço de interactividade.
Para Kapferer (1995) a comunicação de marca e projecção das suas imagens no mercado respeita o seguinte esquema:

Identidade - Comunicação - Imagem
Kapferer, J.N. (1991), Marcas – Capital de Empresa, Lisboa – Edições CETOP


O carácter mítico que subjaz a este modelo de comunicação publicitária aparece num estudo do Professor D.H. Mellor (Faculdade de Filosofia de Universidade de Cambridge) relacionado com a questão simples das convicções verdadeiras. Segundo este investigador: “uma acção resulta quando satisfaz o desejo que se combinou com uma convicção verdadeira para desencadear a acção”. O problema é de “como obter essas convicções verdadeiras de que a pessoa precisa para que as suas acções satisfaçam o seu desejo?”. A resposta que o autor aponta é simples: obtêm-na de outras pessoas pelo acto de comunicação. Isso não quer dizer que ele não poderia obtê-lo de uma simples observação directa mas sim que a própria comunicação é já uma espécie de observação. Em vez de procurar directamente uma coisa de que precisa para obter dela uma convicção verdadeira a pessoa procura, antes, um sinal. Esse sinal é, na sua projecção, o epicentro de tudo aquilo que a publicidade procura construir a volta do produto.

terça-feira, agosto 09, 2011

FAILURE SYSTEM

Uma equipa de investigação na área da política cabo-verdiana, denominada NAUSEA, detectou 9 erros de sistema e são os seguintes:

1. Candidato da cidadania. Erros no próprio discurso mediático com variadíssimas discussões sobre qual dos candidatos é o candidato da cidadania, se era o JCAF ou o AL, quando era muito claro que o único candidato da cidadania foi, afinal, o incrível Joaquim Monteiro.

2. “MI É CABO VERDE”. Este slogan da campanha de MIS esconde um terrível epigrama: JMN que orquestrou tudo é o seu autor e afirmou-o às expensas do próprio candidato: “Mi é Cabo Verde”, ou seja, é o próprio Neves a afirmá-lo, em língua crioula, como um semideus.

3. Compra de votos. Inacreditável, mas verdade como água cristalina! È a senda do “povinho” que corrói a democracia cabo-verdiana, por dentro.

4. A Contagem dos Votos. No directo na TCV a amostragem dos dados que começara com um universo de 41 mesas revelando, desde logo, a vantagem de JCAF foi, logo, ignorada por Valdemar Lopes que iria pegar, de boa intenção (sic), numa outra amostragem, com apenas 28 mesas apuradas, anterior àquela, que registava a vantagem de MIS na tabela de percentagens. Denunciava, sem querer, o truca truca que iria prevalecer ao longo das contagens.

5. 2.ª Volta. A passagem de JCAF e MI prova a imaturidade política do Homem cabo-verdiano moderno, ou seja, a cegueira em relação às virtudes de um ou outro candidato e o engajamento, tout court, nos candidatos nomeados pelos partidos.

6. Aristides Lima. Era claro que o JCAF passaria para a 2.ª volta mas já não era tão previsível os resultados para o MI ou para o Aristides Lima. Este último caiu no erro de pretender situar-se acima da história – a história real - «a poeira e sombra»- que existe na política cabo-verdiana. A sua almejada vitória significaria que o Povo cabo-verdiano tinha parado na História, tentando repescar dela uma imagem saudosista de um Aristides Pereira, ou, quando muito, significaria que o povo cabo-verdiano atingiu um nível de sofisticação política, e de análise, que os povos, todavia, nunca costumam ter, precisamente por terem a qualidade de massa conduzida.

7. Jorge Carlos Fonseca. JCAF, o único candidato que, no debate televisivo decisivo, se dirigiu em língua crioula e com alguma naturalidade à nação cabo-verdiana, já é decididamente o candidato que pode e deve consolidar a democracia cabo-verdiana, mas o erro do sistema é que na democracia não existem grupos destituídos de interesses, apenas preocupados com o bem colectivo, e o facto desse sistema ser auto referente, é terrível para qualquer candidatura. É que o sistema se encarrega, sempre, de dizer: «o povo é quem decide». E agora? Alguém se atreve a dizer que «o povo não tem razão»? Bem, se JCF perder na segunda volta eu mesmo me encarregarei de fazer essa afirmação e justificá-lo-ei como bom cabo-verdiano que sou.

8. Incidentes na Votação. O que, ainda, é irracional é o que leva a que uma orelha de um cidadão votante, em Achadinha Cima, seja despregado da cabeça, à catana.

9. Prato preferido de JCAF. Caldo de peixe misturado com yogurte?