A 7.ª Arte e o Público
Vejamos como Hauser (2000) olha para a questão do «público» no domínio da 7.ª Arte: segundo este autor a massa de espectadores, no cinema, dificilmente poderia ser qualificada de «público» “visto que só um grupo mais ou menos constante de patronos pode ser descrito como tal: um grupo que, em certa medida, é capaz de garantir a continuidade de produção num certo campo da arte diversa”. Ora bem, essa continuidade de produção só acontece por essa discreta realidade a que Dickie (2008) se refere: [o espectador] «não reage ao que é artisticamente bom ou ruim, mas a impressões pelas quais se sente tranquilizado ou alarmado em sua própria esfera de existência».
Porém, se levarmos em conta o cinema de autor ou cinema de arte (terminologia utilizada por João Bernard da Costa), a dicotomia colectivismo artístico vs. personalidade de artista ameniza-se e pode-se afirmar, seguramente, que existe um público fiel ao cinema de L. Buñuel ou que há um público afecto ao estilo cinematográfico indie de Jim Jarmusch. É isso que move os cinéfilos e as cinematecas, uma realidade distante das grandes produções e hiper-salas de cinema comerciais: é que, para um cinéfilo inveterado, um Orson Welles ruim, provavelmente, valerá mais do que um excelente Tony Scott.
A experiência, ao longo da história, deixa em aberto a questão das fronteiras da arte no cinema, desde sempre alarmada por transgressões de ordem estética e formal. Quanto ao público torna-se cada vez mais difícil delimita-lo por ser cada vez mais heterogéneo e fragmentado no seu funcionamento e pelo acesso multi-mediático e cibernético de que beneficia relativamente às obras cinematográficas dos artistas.