TEMAS

sexta-feira, março 23, 2007

Simpósio sobre o Movimento Claridoso: Corações em chamas.

Fico com o coração em chamas por causa desta onda de soberba que assola o meio cultural e intelectual caboverdianos. Porque é que um simples Simpósio sobre Movimento Claridoso na cidade da Praia despoleta tantas tintas na imprensa?! Porque é o efeito iceberg: esconde-se uma imensa massa gelada por baixo. Não preciso citar os nomes dos que embarcaram nessa polémica. È muita gente, não se trata apenas daqueles que chegam á imprensa.



Qualquer jovem caboverdeano (seja badio ou sampadjudo) já teve, por certo, a sensação de ser excluído quando o assunto é «Movimento Claridoso» ou «Claridade». Parece que te estão sempre a dizer que têem um bem que tu ainda não conseguiste almejar ou, pior ainda, que essa é a sua vida essencial e que por conseguinte não podes tê-la para ti.


Isso deixa-me preocupado. Porque sempre que eu faço um esforço em perceber qual a importância desses homens na vida «real» dos caboverdeanos só consigo ver um grupo de escritores que aprenderam com a literatura brasileira um tipo de narrativa e abordagem etnologista e cultural no romance. Alguns deles encontraram mesmo verdadeiras almas gémeas no Brasil. Li «Chiquinho« de Baltazar Lopes quando tinha 14 anos e li «O menino de Engenho» de José Lins do Rego, já adulto, com olhos bem abertos. «Uauu!! Não é que os dois se parecem!!» sussurei, na altura, p'ra mim. Bem, seja como for, eu não tenho muitos conhecimentos da literatura dos claridosos. Na verdade nem os sinto no meu coração. Os meus problemas existenciais são outros e a minha geração é bem diferente da deles.


Até aqui ainda vou tirando o chapéu quando entro no altar dos claridosos mas não garanto que continue a fazê-lo se continuarem a soprar na minha direcção miudezas sussurantes e cínicas do tipo: badio que viestes da escravatura só conheces o batuque e o tam tam da tabanka. É que senão grito a plenos pulmões para esse altarzinho de palimpsesto e fakes:





Vós que fostes, outrora, mulatos finórios de Mindelo e S.Nicolau,
sois agora praticantes fariseístas de uma postura pós-colonialista,
Só conheceis o galanteio ao homem branco e a aquiesciência das vossas cortesãs

quando proferis palavras que não estão nos vossos corações.


Si ka txiga's, pamode nha português stá mal faladu ou pamóde N ka ninguem, N ta lê's kusé ki

Pantera skrebe di fundu di kurason :


Dj' es panha Padre Duarte

kela gó nada a ver ka tem

Dj' es faze discurso bunitu, ahn

Mas li na txon ki nu stá.





Acerca do engrossar das polémicas sobre as datas, local ou, quiçá, a quem pertence a legitmidade da realização do Simpósio sobre o Movimento Claridoso até se compreende: não temos muitos acontecimentos no nosso pequeno país (sabe bem levantar algum apupo de vez em quando). Ainda bem que quando as chamas da ira sobem em Cabo Verde é com soberba, malícia e inveja e não com barbaridades, bombordeamentos e sangue.

Off Record:



[Caro Sr«Padre Duarte» será que Praia e Mindelo estão separados «nos seus corações»? Esta poderá ser a nossa versão bílblica de Caim e Abel, em remake crioulo. Pelo menos tem em si os mesmos ingredientes: inveja, soberba e malícia. Falando em ingredientes apeteceu-me comer agora um bolo de chocolate. espero não me engasgar por causa desta estória, Sr. «Padre Duarte»].







  • Veja outras posições em relação á este assunto no Albatrozberdiano e em Momentos. Pode ler ainda no www.asemana.cv o texto em PDF (102) de Abrãao Vicente que, por sua vez, atacou Germano Almeida em relação á alguns pontos.








Sem comentários: