João Bernard da Costa escreveu recentemente que Ingmar Bergman é dos poucos cineastas que se pôde orgulhar de ter epítetos como «bergmanomania». Já se disse dele coisas como «Bergman saved my life» ou «família de bergmanistas inveterados» . Cada qual tem o seu Bergman. O «meu» Bergman (apesar de não ser o meu cineasta de eleição) descobri-o progressivamente, á medida que ia, ao acaso, á Cinemateca Portuguesa. Cheguei tarde mas uma das primeiras coisas que verifiquei foi a riqueza textual nos seus filmes e que só o teatro pela sua natureza formal consegue. Só mais tarde vim a saber que ele foi primeiro dramaturgo e encenador e só depois cineasta, relação essa que ele veio a comparar ao conflito «mulher fiel» (o teatro) vs. «amante» (o cinema, evidentemente). Dizia, o «meu» Bergman é o Bergman do sobrenatural e do agnosticismo mais do que o Bergman das mulheres (aquilo porque ele é mais conhecido). Saboreei o jogo de xadrez com a morte em «O Sétimo Selo» e fartei-me de rir quando a personagem do insubmisso adolescente Alexander leva, no final da película «Fanny e Alexandre», um tabefe do fantasma do bispo, seu padrasto, que o castigara pela sua insubmissão e protesto aos horrores antes inflingidos á ele, à irmã e à mãe. Enternecedor foi vê-lo, depois, a procurar o quarto da avô e a aninhar-se aos pés dela. Esse tipo de cenas da vida conjugal são verdadeiramente sublimes em Bergman. Compreendo, ao mesmo tempo, a sua posição enquanto agnóstico quando coloca na boca desse mesmo personagem esta frase: «Se Deus existe então é um deus de caca e mijo».
Foi também Bergman quem deu á Morte o rosto que mais profundamente se incrustou no imaginário colectivo ocidental apartir da segunda metade do séc. XX - a do actor Bengt Ekerot no jogo de xadrez com a morte. Perdida a batalha com a morte terá agora Bergman todas as respostas sobre o sobrenatural? Verá, aquele que é considerado o mestre dos grandes planos, um grande plano do rosto de Deus?
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