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sexta-feira, agosto 03, 2007

O Adeus á Michelangelo Antonioni

Com uma cerimônia sóbria marcada por cantos fúnebres a cidade de Ferrara se despediu nesta quinta-feira de seu notável filho Michelangelo Antonioni, o último nome dos grandes mestres que deram fama e prestígio ao cinema italiano, na basílica de San Giorgio.
Na elegante e antiga igreja de sua infância, 500 pessoas se reuniram, entre amigos íntimos, familiares e pessoas comuns, para dar o último adeus a Antonioni, que faleceu na segunda-feira em Roma aos 94 anos.
"Agora está além das nuvens, onde pode voltar a falar", comentou ao término da cerimônia o diretor de cinema alemão, Win Wenders, que foi seu amigo e co-autor de um de seus últimos filmes, "Além das nuvens", realizado em 1995, quando o mestre estava doente e sem fala.
"Seu corpo exposto aqui me transmite serenidade. Michelangelo terminou como sempre quis, em meio à neblina de Ferrara, sua cidade", disse o roteirista e poeta Tonino Guerra.
"Eram maravilhosas as suas discussões e gestos democráticos", lembrou Guerra.
Na primeira fila, diante do caixão de madeira clara com uma cruz fina dourada, cercado de poucas coroas de flores, estava sua esposa Enrica Fico, sua companheira por 35 anos e sua sobrinha Elisabetta, a quem o cineasta havia pedido no ano passado que o enterrasse no cemitério de Ferrara, ao lado da tumba de seus pais.
Ninguém chorava, ninguém deixou transparecer a emoção, apenas o respeito e a admiração dominaram a cerimônia, celebrada pelo padre Massimo Manservisi, um sacerdote apaixonado por cinema, que elogiou a visão aberta aos questionadores e curiosa de Antonioni.
"Como Nicodemo (líder dos fariseus que defendeu Cristo), Michelangelo estava atento aos sinais, dissecava o ser humano, seus olhos eram como os de um pintor flamenco", disse o religioso.
Diante das autoridades locais e regionais, a vice-prefeita da cidade, Rita Tagliati, que decretou um dia de luto, anunciou que o museu de Antonioni, aberto desde 1995 pelo próprio mestre, será completamente remodelado para alojar mais obras e filmes.
Apesar de ter sido ligado ao Partido Comunista italiano, o "intelectual do cinema" e "mago da luz", como foi chamado, quis que um tradicional funeral católico fosse celebrado em sua homenagem.
"Uma vez perguntaram a Antonioni em uma entrevista se acreditava em Deus e respondeu: sim, algumas vezes, à noite", contou o padre, que ressaltou a capacidade do artista de superar a doença que o manteve paralisado e sem fala por 22 anos após um derrame cerebral.
Uma longa fila de pessoas, muitas delas idosas, passou pelo caixão fechado para se despedir deste gigante do cinema que foi enterrado com discrição e elegância, características marcantes deste gênio da sétima arte.
"Viemos muitas vezes com Michelangelo a Ferrara, pelo rio, Pó e vir a Ferrara era uma viagem à luz, à luz de sempre. Buscava sempre essa luz, sua cidade, por isso descansará aqui", disse sua viúva.



In: O Ultimo Segundo

Fonte: AFP

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