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quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Era uma vez um país...



Hoje em dia toda a gente vai para Londres. Eu fui parar a Guiné-Bissau para participar num workshop sobre documentários naquele continente, pois, foi lá que deixei o meu cordão umbilical. Ando em busca das origens ... e isso é já uma boa razão para reiniciar este blogue depois de uma inter-missão (entenda-se intervalo para realizar uma missão).


Ah..., para quem tem lido este blogue ao longo destes dois anos devo dizer que decidi não disponibilizar aqui as minhas imagens video, por uma questão de bom senso (conselho do meu amigo realizador de documentários Miguel Clara Vasconcelos, da Andar Filmes). Para este suporte de informação a internet já está a tornar-se um local pouco seguro. Alem disso o fenómeno do video-instalação parece ser mais consistente do que ter um V.log na internet, pois acaba por criar uma experiência mais humana no espaço relacional da arte, mais interessante do que esse espaço impessoal e virtual da net. Claro que isso não é novidade para ninguem mas eu procurei descobri-la do modo mais radical possível ...


Portanto fui parar á Guine-Bissau, considerado já um narcoestado. Aí, valiosos Jeeps e outros carrões percorrem ruas arruinadas e parece que, como em qualquer governo corrupto, lá as coisas são obtidas não pelo esforço de construção de um país mas sim por expedientes obscuros e continuados que não atendem ás concequências morais e sociais que daí advêem. As ruas da capital Bissau são despojos da guerra e da pobreza; os passeios estão literalmente arrancados do chão; o antigo palacio do governo está todo esburracado e, pasme-se, é diante dela que se levanta a bandeira do país ás duas horas da tarde. Conheci lá dois jovens talentos da escultura - o Joaquim e o N'Djai - que ocupam o seu espírito durante o dia, no Centro Artístico Juvenil, na produção em pau de sangue de figuras e símbolos da sua cultura étnica como régulos e irans, cuja força mitológica equivale no mundo moderno ao papel dos nossos parlamentaristas, políticos e religiosos. A partilha destes dois universos não os confunde. Agarram-se a velhas formas e ontologias porque acreditam que é dali que vem a sua força e é talvez por isso que os centros urbanos (a capital do pais espelha isso) não tem importância enquanto construção do espírito humano. Enquanto trabalham morosamente o seu material o mundo lá fora deixa de existir: se não se puder salvar um país em vias de se transformar na «Colombia da África» salve-se pelo menos o Joaquim e o N'Djai. Se fores a Guiné Bissau visite o Centro Artístico Juvenil da capital e salve o Joaquim e o N'Djai. Outros esforços em relação aos problemas desse país em http://www.odiaquepassa.blogspot.com/.


Eu, por enquanto, vou salvando as minhas memórias ... neste tempo de lobos ... e o meu blogue já leva - faz hoje - 2 anos de existência, portanto ... velinhas!!

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