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terça-feira, junho 07, 2011

CENTRO CULTURAL BRASILEIRO

Na sequência de vários Workshops sobre Documentário no CCB, no verão de 2009 entrevistamos Sr.ª Marilene Pereira, Directora do Centro Cultural Brasileiro que, de uma forma geral, considera que se deve pôr a tónica nas novas tecnologias vídeo/multimédia e lutar contra um certo «laxismo» que impera no seio dos potenciais criadores.




Dr. Marilene Pereira, desde que é Directora do CCB, que espaço tem ocupado o cinema na vossa programação cultural?
O cinema tem sido desde a primeira uma actividade constante cinema adulto e só o cinema brasileiro. Actualmente a gente faz uma programação mensal específica. Para a criança é mais raro porque o Brasil não tem uma grande produção de cinema para o público infantil. Além do espaço que é um auditório a gente tem feito parcerias com a Câmara Municipal. Por exemplo, na quarta-feira a nossa programação de cinema era na Praça, no ano passado foi feito um cinema voltado para os jovens. Este ano o CC Mindelo já está com uma programação de cinema ligada ao Carnaval. Paralelamente a isso fizemos tanto no primeiro ano de funcionamento como no segundo ano formações em documentário. No primeiro ano foi mesmo sobre cinema; os jovens aprenderam a fazer o guião, a questão da iluminação e do som. Era um grupo de 15 jovens.
No ano passado fizemos documentários curtos. Fizemos já duas formações. Está previsto este ano na nossa programação mais uma formação em cinema com aquele grupo que veio em 2008. Mas isso depende do governo brasileiro. Para as actividades maiores precisamos de mandar para a aprovação do Camaraty. E estamos a tentar uma parceria com a Telecom, já há uma sensibilidade, e que é um festival de curtas metragens só com telemóveis. Já temos um realizador para acompanhar. Se não resultar essa parceria vamos avançar com a T+. Inspira-se num festival do Brasil da autoria de uma companhia de telemóveis do Brasil que já tem um festival nacional de curtas que já tem bastante impacto. Essa é, portanto, a nossa parte do audiovisual. Incluímos também no programa passar cinema no bairro a começar primeiro pela Praia escol¬her cinco bairros e durante o ano passar a outros bairros.

Qual o bolo orçamental que cabe ao sector audiovisual no CCB?
Por incrível que pareça não é um pacote caro o que se dedica ao audiovisual. A única coisa que temos que fazer é a promoção. O governo brasileiro patrocina os filmes, directa ou indirectamente, por fundos. Para além disso para ter direito a isso o governo tem que pagar o direito de transmitir esses filmes, concedida a todos os centros culturais brasileiros espalhados pelo mundo.




Existe um programa de incentivo á produção audiovisual a esses países e que seja algo sistemático?
Não tem nenhum. Porque não faz parte da política cultural brasileira repetir as actividades. Há, todavia, um festival que já vai na sua 4.ª edição e que é o Festival Internacional dos Direitos Humanos. É um programa latino americano mas é de iniciativa da Secretaria do Estado dos Direitos Humanos que é ligada á Presidência da República do Brasil. Este ano o programa foi estendido a Cabo Verde e a Guiné-Bissau. Estiveram já duas técnicas da secretaria e elas têm interesse em que esse programa continue em Cabo Verde. Mas não é só trazer os filmes de Festival Internacional da América Latina. Quer dizer que tem uma selecção; trazemos tudo o que tem interesse para Cabo Verde. Mas há também interesse para que seja produzido localmente documentários para passar nesse festival Cabo Verde - Brasil. Como há muita sensibilidade da parte dos organis mos internacionais pela questão dos direitos humanos pode ser que consigamos através da questão dos direitos humanos institucionalizar uma actividade audiovisual dessa natureza em Cabo Verde.




Qual seria neste caso o papel do Governo?
Eu não gostaria de encostar o governo á parede. Acho que os activistas sociais têm uma capacidade mínima para fazer a produção. Há câmaras baratas; há programas de edição que você até pode baixar na internet. Eu acho que falta mais qualidade a nível de agentes culturais do que a nível do governo. Eu não apoio nada que é medíocre. Tem gente que tem que parar de ter essa visão carola: “ah, é culturinha”. Não! Ou é produto cultural ou não é! O mundo não aceita “culturinha”. “Sou coitadinho. Vamos apoiar.”. Não! Tudo tem que ter uma base económica.
O governo brasileiro não financia filme que não tem resultado de bilheteria porque quando o governo financia sai o nome de governo lá e o governo quer publicidade. Não é carolice. O governo está associando o seu nome a um produto de qualidade. Em vez de pagar publicidade na televisão tá incluindo a publicidade pagando previamente por ela. Os agentes culturais aqui ainda são muito pidões. Vamos fazer uma coisa com qualidade e parceria, não “apoio”. Não gosto da palavra apoio.




Há alguma figura que destacaria no cenário de produção nacional?
Eu destacaria o Silvão que inclusive acabou de ganhar um prémio da DOC TV. Pelo menos é o que e mais visível. Porque ele já está conseguindo se movimentar externamente. Olha aí o pacote da DOC TV quase não houve candidatura. Era ter ideia. Eu não posso pedir apoio ao governo para ter ideia, eu não posso pedir apoio ao governo para ter talento. Há financiamentos internacionais. Eu soube agora que o Mário Benvindo ganhou um financiamento grande num trabalho sobre a ecologia. Há instituições que financiam. E não é apoio. É parceria.




O CCB entraria em parceria para uma produção?
Não. Não é vocação desta instituição. A cooperação do Brasil com Cabo Verde não se baseia em recursos financeiros. É com base na disponibilização de capacidades técnicas. É este o modelo de cooperação que o Brasil faz com o mundo. Não tem dinheiro, tem capacitação técnica. Pontualmente, por exemplo no caso da dengue a gente disponibiliza uma ajuda de emergência financeiro.




Como vê a nossa televisão pública?
Eu vejo muito pouco TCV. Vejo mais outros canais internacio-nais. No caso das outras emissoras mostrou ser tão ruim e tão medíocre que a TCV parece super á frente da mediocridade com os recursos que eles têm. E há que tirar o chapéu a Tiver que anda na cate cate fazendo coisas interessantes. Mas a TCV está demonstrando nos últimos meses uma interelacção com o público que é muito interes¬sante. Uma interacção que acontece lá fora. Veja a SIC que eu acho indecente: meia hora de publicidade. Portugal não deve ter uma autoridade de regulação de comunicação televisiva porque é um desrespeito que num país de crises a televisão manda comprar, manda comprar. O que na véspera do dia das crianças enlouquece a criançada com consumo, consumo. É indecente e criminoso o que a SIC e outros canais portugueses fazem. Nós em Cabo Verde temos essa vantagem. Quem está vendo não é pressionado por publicidade. Mas por outro lado a televisão não ganha dinheiro e recursos para fazer os seus produtos. Eu não poso crucificar a televisão só. Nós temos a televisão com os recursos do país. Tenho uma amiga em casa que veio do Brasil e ela disse-me “esta televisão é do governo, n’é?”. Tá na cara. Ela só passa coisas do governo no noticiário que é só politizado. É só governo, governo. Mas eu estive na televisão e acho que é preguiça. Eu recebi as notas que me mandam até com texto arrumadinho. Eu nem preciso de escrever.

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