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quinta-feira, maio 24, 2012

PRELÚDIOS SOBRE O ESTATUTO DO ARTISTA (3)


Pablo Picasso

O Artista e a Criação

Sobre a relação que o processo da criação na Arte mantêm com as ideologias políticas, o estudioso Argan (1995) lança-nos este terrível epigrama: “toda a arte do século XX está, directa, ou indirectamente, relacionada com a situação política” (Argan,1995: pp. 39). Todavia destaca o aparecimento da École de Paris como a ars liberalis autêntica, desligada da política e dos «ismos» da arte contemporânea. (Argan, 1995: pp.41). No tour de force que o artista mantém com o status quo político poucos artistas se podem dar ao luxo de permanecer em absoluto na esfera estrita da criação artística. Neste particular, Argan refere a figura de Picasso que, segundo ele, “permaneceu como o modelo do «génio criador» que muda de estilo sem perder a sua própria consciência”. A sua invenção do cubismo, e a sua aventura pelo surrealismo e abstracção geométrica, foi, na perspectiva deste autor,  (Argan, 1995). «só para demonstrar que, se as correntes e os movimentos têm todos uma razão de ser, não constituem senão a oportunidade contingente de realizar aquela incoercível actividade que é própria do artista (…).”. E teve ainda tempo de se aproximar da vida política na esfera comunista, numa das diferentes fases da sua vida. Nesta linha de ideias, a figura do artista identifica-se com algo de mais intrínseco e inato, aquilo que faz existir o «génio criador» de Picasso ou o «génio maldito», à semelhança de Rimbaud ou Charlie Parker. 

Porém, reivindicar a personalidade do artista tal como o fez o pintor e teórico Cennini, no século XIV, não basta para definir a respectiva posição. É que todo o artista deve ter um papel na sociedade e, fundamentalmente, um público (mesmo que seja reservado em tertúlias literárias de cafés fumarentos ou em jam sessions no backstage de um bar pub qualquer). Na idade contemporânea, a ideia de um artista que não sabe se explicar perante a obra entrou em desuso e a sua Arte passou a estender-se, assim, ao modo como ele se expressa por escrito ou oralmente sobre a obra produzida. Com a onda de pirataria epidémica na música, e no audiovisual, é cada vez mais compreensível que assim seja, pois, isso obriga o artista a desdobrar-se em concertos, jam sessions, workshops, palestras e defesas de direito de autor alargando, assim, o espectro da sua actuação enquanto criador da obra. 

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