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terça-feira, maio 22, 2012

PRELÚDIO SOBRE O ESTATUTO DO ARTISTA (1)

 Claude Monet, The Poppy Field.

Para Read (2007), existem dois princípios orientadores na Arte: primeiro, o princípio da forma, que é a configuração que uma obra de arte toma, e que pode ser dada não só por quem faz música ou pinta, mas também por aquele que faz móveis, sapatos ou vestidos, o que alarga o espectro no qual se firmam vários graus de artistas; segundo, o princípio da invenção, próprio do espírito do homem e que o impele a criar. Para Read (2007) a forma surge instintivamente ao artista e corresponde às formas elementares existentes na natureza, isto é, resulta da percepção do artista, como refere o autor na seguinte passagem: 


“Símbolos, fantasias, mitos que só tomam uma existência objectiva universalmente válida em virtude do princípio de forma. A forma é uma função da percepção; a originação é uma função da invenção. Estas duas actividades mentais esgotam, no seu intercâmbio dialéctico, todos os aspectos psíquicos da experiência estética.” (Read, 2007: pp.49)


No processo interior, criativo e orgânico, da experiência estética pode se afirmar que o artista inventa a forma, isto é, dá à sua experiência íntima uma configuração exterior que se pode compreender numa tela, por exemplo. Este autor original afirma, com consequências imprevisíveis na sua análise, que a vida é essencialmente estética «em virtude da encarnação da energia numa forma que não é, meramente material, mas estética». Com isso estende a sua análise ao que é discernível na evolução do próprio universo e põe a arte no centro vital da actividade humana com todas as consequências que daí advêm, como por exemplo, o uso da arte em técnicas de aprendizagem, e, pela mesma ordem de ideias, em terapias psicanalíticas, num processo peculiar que se deve entender como uma reconversão da vida. Compreende-se, assim, a sua formulação inicial de que a arte é um mecanismo orientador que, em princípio, (re)estabelece ou (re)apreende o equilíbrio, contra o caos espiritual. 

Esta posição teórica não nos permite, ainda, equacionar e delimitar o que deve ser considerado Arte e quem deve ser considerado artista. Para que a «festa» não fique abarrotado de gente e rompa pelas costuras há que saber distinguir a atitude estética da Arte, no seu sentido originário: quando fazemos um tattoo nos braços e vestimos-nos de negro, todos os santos dias, isto é a atitude estética; e quando produzimos um quadro de uma personagem com essa mesma pose sob um solarengo e paranóico amarelo estamos a fazer Arte ou, pelo menos, a desafiar os seus limites.

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